• E quando a Apple fizer carros?

    E se a Apple fizer carros?

    Um dia, você percebe que a bateria do seu iCar está descarregando tão rapidamente, que você sequer consegue voltar com ele para casa sem plugar uma bateria externa no acendedor de cigarro.

    Você faz as contas. “Não vou comprar um outro iCar só por causa da bateria do meu, não é? Deve dar para só trocar a própria…”

    É quando você começa a perceber que as coisas não são tão fáceis assim com o iCar.

    Pra começar: apenas a própria Apple tem o direito de abrir o capô do seu carro para fazer a troca de uma bateria que só ela vende. Você aventa a possibilidade de levar o carro para uma oficina não autorizada, mas aí um amigo experiente lhe alerta: “Tá maluco? Seu iCar perde toda a garantia sobre o motor, o ar condicionado, o GPS, os freios, enfim, tudo!”

    Resolvido, então. Você aceita levar a uma autorizada.

    Chega lá, pega senha, entra na fila, espera, espera, espera. Quando te atendem, você diz: “quero só trocar a bateria do meu carro. Dá pra fazer agora?”.

    Não. Não dá. As oficinas autorizadas da Apple não têm estoque de baterias da Apple!

    Elas precisam encomendar para a fábrica, que leva aí uns 10 a 15 dias para entregar o pedido.

    “Mas como vocês não têm estoque, se são autorizadas e todo mundo sabe que as baterias do iCar não duram nada?”, você pensa, quase discutindo. Mas acha melhor que não.

    Você respira fundo, concorda até em pagar adiantado — que outro jeito? –, e pergunta: “Posso ir embora?”.

    É quando descobre que ainda não. Vai esperar pelo menos mais uma hora até o mecânico examinar seu carro para ver se você falou a verdade de que nunca abriu o capô numa oficina não autorizada.
    Enfim, duas semanas depois, recebe um e-mail: sua bateria chegou.

    Você leva o carro todo feliz para a Apple: finalmente hoje vou poder dirigir à vontade.

    Sonho seu.

    “É muito serviço. Todo mundo trazendo seus iCars para trocar a bateria. A oficina está cheia”, diz a atendente para explicar que você terá que deixar lá seu carro e voltar para pegar no dia seguinte. Depois que lhe avisarem por e-mail, claro.

    “Mas na volta meu carro vai estar pronto para andar normalmente?”, você pergunta. 

    “Ah, não. Pra deixar aqui o senhor vai ter que tirar todos os acessórios que colocou: calotas, rádio, bancos de couro, rack. Nossos mecânicos precisam que o carro esteja extatamente como veio de fábrica para poder trocar a bateria. Mas depois é só o senhor instalar tudo de novo”.

    Você respira fundo mais uma vez, para não falar bobagem. E pensa:

    “Que bom que ao menos existem taxi e Uber, que eu posso pegar enquanto a Apple troca a bateria do meu carro. Já imaginou ter que ir três vezes à oficina e ainda ficar quase um dia inteiro sem meu iPhone, só para trocar a bateria dele?”

    Marcio Ehrlich

    Jornalista, publicitário e ator eventual. Escreve sobre publicidade desde 15 de julho de 1977, com passagens por jornais, revistas, rádios e tvs como Tribuna da Imprensa, O Globo, Última Hora, Jornal do Commercio, Monitor Mercantil, Rádio JB, Rádio Tupi FM, TV S e TV E.

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