• Inclusão social já é pauta das agências que atendem o Governo

    Inclusão Social

    As agências que atendem a conta publicitária do Governo do Estado do Rio de Janeiro começam a se adaptar às novas regulamentações, aprovadas pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), na última terça-feira, 26/03. Dois Projetos de Lei aprovados obrigam a participação de pelo menos um terço de atores afrodescendentes e outro terço de atores com deficiência física nas peças publicitárias do governo estadual.

    Marcos Apóstolo
    Marcos Apóstolo

    A Janela conversou com profissionais que trabalham com o Governo do Rio e eles concordam com as novas determinações. Para o sócio e diretor de criação da Binder, Marcos Apóstolo, as regulamentações eram necessárias: “As legislações acontecem porque a coisa não se dá de maneira espontânea, daí a necessidade de criar as leis, que surgem pela deficiência que havia nesse aspecto”.

    O supervisor de Criação da Agência Nacional, Eduardo Almeida, faz coro, e alerta: “A regulamentação é uma medida super válida, mas é importante levar em conta a pertinência. Isso deveria ser uma recomendação e não uma obrigação, para não ‘engessar’ a comunicação”.

    Bruno Miguel, sócio-diretor da produtora Movie Machine, concorda com Apóstolo e diz: “Fico muito orgulhoso de atender o Governo Estadual e ter que seguir essa determinação. Vou me sentir bem em fazer o que já vinha fazendo espontaneamente”. Para ambos, a diversidade racial do país é inegável e precisa ser representada nas peças publicitárias que mostram o estado. Para Apóstolo, as marcas precisam falar para todos e não falar é uma deficiência que reflete toda a sociedade, que ainda não conseguiu lidar com essa questão.

    Eduardo Almeida
    Eduardo Almeida

    Mas para o mercado publicitário, colocar as novas regulamentações em prática é viável? Para Eduardo Almeida é. “Mas teremos que fazer o exercício de trás para frente, será preciso escolher os atores para então criar as peças, ao menos no início, afinal, tudo o que é novo demanda um período de adaptação”, avalia.

    Bruno Miguel acredita que “operacionalmente, é delicado, porque incluir portadores de deficiência pode ficar fora de contexto em algumas situações. Vai restringir a comunicação de um modo geral. Minha preocupação, como cidadão, é de que isso não venha a servir como uma válvula de escape para outros problemas e demandas da sociedade. É preciso ter cuidado. Os déficits não serão resolvidos assim, mas é um passo, sem dúvida”.

    Já Marcos Apóstolo, acredita que “as novas regulamentações não cerceiam a criação. Isso é parte da sociedade e, dessa forma, começamos a vencer barreiras. É preciso se comunicar com todos”. E alerta: “Será preciso tomar cuidado com o que será usado, ficar alerta para exemplos equivocados de oportunismo. Prestar atenção no que é oportunidade e no que é oportunismo. O processo é longo e precisamos nos superar”.

    Bruno Miguel
    Bruno Miguel

    Um exemplo do que Apóstolo diz é a experiência vivida por Bruno Miguel, em 2016, quando, junto com a Agência3, fez um filme para a Coca-Cola. O ‘Anúncio Surpresa’ mostrava a escolha de um funcionário da empresa, que carregaria a tocha olímpica na cerimônia de abertura das Olimpíadas 2016 — que aconteceu aqui no Brasil. Bruno relembra: “O eleito, o designer gráfico Carlos, era o cara mais querido de lá. Ele tem uma filha deficiente, com problema de mobilidade”. Para o sócio da Movie Machine era importante saber abordar a deficiência da menina: “Fiz a análise da situação, sentei com a agência e o cliente, que entenderam a minha proposta. O filme precisava valorizar o Carlos por ser querido, competente, não pelo problema da filha. Contamos a história dele, a filha fez, naturalmente, parte do filme, mas não foi o destaque. A deficiência não pode virar apelação, é preciso estar atento aos detalhes que podem gerar polêmicas desnecessárias”.

    A Janela ouviu ainda o ex-atleta paralímpico, Clodoaldo Silva, que gostou de saber das novidades e afirmou: “Isso já deveria ter acontecido há muito tempo. A inclusão é um pensamento de cidadania. A questão da diversidade e da acessibilidade, por exemplo, são fundamentais. As pessoas com deficiência física precisam aparecer para que possa haver mais respeito a elas e às leis, é um primeiro passo sem dúvida”, comemorou.

    Clodoaldo Silva
    Clodoaldo Silva

    Renata Suter

    Jornalista

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