• Exemplos de quem não ficou só no papai e mamãe

    Bianca/Luana - Fazemos café c/leite, pão na chapa.

    Eu fui muito feliz como estagiário na L&M Propaganda, não precisava de dinheiro imediato, estava aprendendo uma boa parte das coisas que sei até hoje, mas mesmo depois de driblar por quatro vezes consecutivas a decisão do meu diretor de criação, Mauro Matos, tive que aceitar, depois de um ano inteirinho de estágio gratuito, que era hora de cair fora da agência.

    Por sorte, um redator amigo me indicou para uma vaga de emprego em uma pequena agência chamada Publicidade Certa. Lá eu fui contratado, com carteira assinada e tudo. Feliz, dei até entrada em um carro.

    Logo nos primeiros dias descobri que ali não se criavam filmes para tv ou anúncios de página de revista ou mesmo meia página de jornal. Nem outdoors. O esquema era bem diferente: eles detinham duas retrancas (esse era o nome técnico do espaço), uma em cada grande jornal do Rio. Esses espaços, na largura de mais ou menos duas colunas de matéria, eram loteados entre pequenos anunciantes, cada um ocupando um quadradinho. Tinha uma retranca dessas no Globo, e outra no Jornal do Brasil.

    Não lembro exatamente o formato de cada célula daqueles espaços de publicidade. Lembravam bastante os classificados de linha, só que tinham esse destaque especial, porque ficavam nas páginas de noticiário.

    Assim, criei textos em 32 toques (na máquina de escrever) e em 7 linhas e meia por cada módulo. Cada módulo era um anúncio e tinha que conter os exatos 32 toques por 7 linhas e meia. Virei craque no formato.

    Tinha clientes como o Serzidor Mágico e a Casa Veneza, para vocês imaginarem o perrengue. Pensam que a galera se apertava? Pois o chefe da redação mandou assim para a Casa Veneza, promovendo uma grande liquidação: VÁ A VENEZA ANTES QUE ACABE. O nome da fera era Carlos Alberto Fontinha. Nunca mais nos cruzamos, mas fica a homenagem a um criativo que não se encolheu diante da falta de espaço.

    Logo eu mesmo abusei em um título para o Serzidor Mágico: COMO VOCÊ NÃO PODE VER, É SERZIDOR MÁGICO. Sucesso. Pois é, quem nunca trabalhou em lugares como a Publicidade Certa ou mesmo na sessão de classificados de um jornal, acha bem mais difícil encarar os tais limites de caracteres das redes sociais.

    Agora, tantos anos depois, encarando de frente um espaço mínimo, cheio de regras e métricas, só posso me inspirar naquelas meninas criativas e suas mensagens promocionais nos classificados dos jornais. Elas disputavam comigo a atenção dos leitores naqueles tempos em que eu trabalhava ali na Avenida Passos, que era o reduto delas. Quando a coisa aperta muito, eu lembro delas. Pensando bem, com um pouquinho de criatividade, sempre dá para passar a mensagem. Duvida? Pergunte às meninas.

    Toninho Lima

    Toninho Lima é redator, professor na Miami Ad School e articulista na Janela Publicitária

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