Janela Publicitária    
 
  Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
 

Janela Publicitária - Edição de 15/JUL/1977
Marcia Bê

 

Esta foi a 1ª edição da Janela Publicitária, publicada originalmente no jornal Tribuna da Imprensa.
O seu conteúdo foi escaneado e transcrito para ficar à disposição de consultas pela internet.
"Marcia Bê" era o pseudônimo da jornalista Marcia Brito. A coluna era editada por Marcio Ehrlich.

É muito cartaz para um macaco só!

King-Kong, por Jacques Lewkowicz, Julio Shimamoto e Paulo Hiroshi
Apesar de o trabalho de Jacques Lewkowicz, Julio Shimamoto e Paulo Hiroshi nunca ter chegado às salas de cinema, a agência GFM/Propeg patrocinou a impressão do cartaz, que foi encartado em uma edição da revista Propaganda.
A não utilização do cartaz vencedor do concurso do Clube de Criação para o filme King-Kong ainda é tema de apaixonados debates nos meios publicitários, intelectuais e jornalísticos. Mas até agora, quase que só se tem ouvido colocações ideológicas e utópicas. Não há dúvida de que o trabalho vencedor é belíssimo e oferece a visão latina do "affair" Kong-Ann, mas estaria dentro do esquema de promoção traçado pelos produtores?

O próprio arquivamento do cartaz demonstra que a resposta é ”não”. E que a escolha ou aceitação do filme King-Kong como destinado a receber o cartaz nacional foi um profundo erro tático do Clube de Criação, movido, acredito, por uma grande credulidade nas “nas boas intenções” dos produtores e distribuidores do filme. Além de uma justificada esperança de que a ampla divulgação que a película teria, acabaria por trazer uma maior veiculação ao cartaz nacional e à campanha de nacionalização.

Mas o cartaz não é uma peca isolada dentro da estratégia de lançamento de um filme. Muitas vezes é a principal, mas por falta de condições reais da produção em financiar uma publicidade mais ousada.

No debate sobre desenho de humor realizado no último dia 6, na Petit Galerie, o desenhista Caulos lembrou que "não é a qualidade do cartaz que faz a pessoa ir ao cinema, mas a quantidade dele". Muito bem, isso acontece. Mas Caulos não foi feliz no prosseguimento de sua ideia, perguntando à mesa e ao público "se alguém ainda lembrava-se do cartaz de Tubarão?"

Logo Tubarão, que teve uma campanha de lançamento tão maciça e agressiva quanto a de King-Kong! Quem não se lembra daquela imagem de um enorme tubarão de boca aberta subindo verticalmente em direção a uma mulher nadando? Uma imagem que não só foi utilizada no cartaz como em capa de livros, revistas, camisetas e inúmeras outras peças de merchandising. Este desenho foi tão marcante e simbólico para o filme que desencadeou até capa de revistas como "Mad" e dezenas de cartuns, inclusive de desenhistas brasileiros.

No caso de King Kong, a imagem do gigantesco animal no alto da torre segurando a mocinha e destruindo aviões se tornou padrão desde a primeira superprodução de 1932. Para este novo lançamento ela só foi redesenhada para readaptar à nossa época. E onde quer que se fale do macaco ela será encontrada: outdoors, embalagens de brinquedos, cara do livro e das revistas da Abril, Rio Gráfica e Ebal. Era muita inocência esperar que os responsáveis pela divulgação do filme do Brasil aceitassem outra ideia. Eles estavam procurando, logicamente, promoção do filme e não das artes gráficas brasileiras.

O cartaz nacional do King-Kong já estava condenado a não ser utilizado ainda antes de existir, a não ser que contivesse imagem igual à do resto da campanha. Mesmo uma lei de nacionalização do cartaz do cinema não obrigaria à produtora usar o projeto premiado pelo Itaú. Seguramente ela escolheria um artista brasileiro que criasse um cartaz de acordo com suas exigências e estaria cumprida a lei.

Não é o caso de dizer que o cartaz brasileiro não vende. É claro que ele venderia, se toda a campanha tivesse começado a partir dele. Mas não vende a imagem de agressividade que os produtores do King-Kong preparavam. Afinal ninguém identificaria aqueles grotescos e agigantados bonecos, montados na frente dos cinemas e dos parques de diversões, com um apaixonado macaco soltando uma lágrima de um amor incompreendido.

O Clube de Criação obviamente não deve desanimar. Apenas ser mais realista e prático. Refazendo a ideia de Caulos pergunto: Alguém se lembra do cartaz de Harold and Maude, Amarcord, Voar é com os Pássaros, Faca na Água, etc.? Pouco provável já que tais filmes não entraram no mesmo esquema de Tubarão e King-Kong. Um grande passo, então para a campanha de nacionalização do cartaz de cinema será o Clube de Criação conseguir que, a princípio (antes da lei), filmes considerados “de arte” tais como os distribuídos pelo Circuito I, tenham seus cartazes criados pelos artistas gráficos nacionais. Aí, sim, estes poderão mostrar a qualidade de seus trabalhos sem imposições ou preocupações.

Nota da Redação (2013):

O 2º Concurso do Cartaz do Cinema, para o filme King Kong de 1976, foi ganho por Jacques Lewkowicz (criação), Julio Shimamoto (ilustração) e Paulo Hiroshi (produção), com a premiação oferecida pelo Banco Itaú.

Apesar do compromisso da Metro Goldwin-Mayer, a peça não foi utilizada, porque a distribuidora usou como desculpa o jornalista Humberto di Piero (“Giba Um”) ter publicado que a arte seria plágio de uma capa da revista americana Hustler, fato desmentido anos mais tarde, após pesquisa nos arquivos da publicação.
José Monserrat Filho, Alberto Schatovski, Gustavo Dahl, Nei Sroulevich, Alcides Fidalgo, Caulos e ZiraldoO 1º Concurso do Cartaz do Cinema, realizado em 1976, havia sido ganho pelo publicitário Sérgio Malta, com a peça que ilustra esta nota, para o filme Dersu Uzala, do cineasta Akira Kurosawa.

O júri deste 1º Concurso (foto à esquerda) foi formado por José Monserrat Filho (Presidente do Clube de Criação do Rio de Janeiro), Alberto Schatovski (crítico de cinema), Gustavo Dahl (Embrafilme),  Nei Sroulevich (Zoom Cinematográfica), Alcides Fidalgo (presidente do Clube de Criação de São Paulo), Caulos (cartunista) e Ziraldo (cartunista, desenhista e escritor), e Cosme Alves Neto (Diretor da Cinemateca do MAM), que está fora da foto que a Janela pegou no site do criativo Sérgio Malta.

Brainstorming

SGB Ponto Frio O Bonsão é Coisa Nossa* Grande sacação da SGB em aproveitar a época em que uma emissora de televisão começa a fazer “especiais” e programas exclusivamente dedicados à música popular brasileira, e criar pra seu cliente Ponto Frio, a campanha “O bonzão é coisa nossa”, utilizando os nossos agora populares sambistas. Demorou mas, enfim, as grandes mídias reconheceram a importância de figuras como Nélson do Cavaquinho, Mano Décio da Viola, Cartola e Candeia. Pena que a mobilidade não percebeu antes que samba não é só o de escola e por isso não é ouvido apenas no carnaval.

* Otto Pajunk mídia da McCann dinamizando o slogan “Coca Cola dá mais vida” nos campeonatos esportivos. É o slogan nacional enterrando definitivamente a formula americana do “isto é que é”.

* O jornal de humor Pingente, aditado pela Codecri e Chalaça, está partindo para o seu terceiro número com uma tiragem cada vez maior. Coisa rara nas publicações brasileiras do gênero. A preocupação de seus humoristas, agora, é encontrar um contato sério.

* O poeta e publicitário Antonino Lourenço está rindo feito bobo. Seu livro “Como se a faca fosse o pão” está cada vez mais difícil de ser encontrado nas livrarias da cidade. Antonino já está pensando numa segunda edição.

* Encerra-se hoje o prazo para o recebimento de propostas, emendas ou substitutivos que deverão determinar a decretação do Código de Ética Publicitária. Quem ainda não enviou estes subsídios para a Comissão Interassociativa não precisa desenvolver nenhum complexo de culpa, pois no dia 15 de agosto terá uma segunda oportunidade, com a reabertura de novo prazo.

* A Casa do Desenho acaba de criar para o INPS um conjunto de peças para o lançamento do novo carnê de pagamento de benefícios previdenciários.
Gian Calvi diretor daquela agência criou a ilustração do selo comemorativo aos 50 anos de ensino primário no Brasil, que será lançado em outubro pela EBCT.

* Falando ainda da Casa do Desenho, o relações-públicas Luiz Augusto informa que ela acabou de ganhar a concorrência pública para a elaboração do relatório anual relativo ao exercício de 1976 do Instituto de Resseguros do Brasil.

* A Esquire foi muito sutil na campanha para o Nacional, relacionando a ideia de um gostoso e crescente bolo com a mensagem do governo de que “primeiro é preciso deixar o bolo crescer para depois dividir". Com isto ela atinge tanto as donas de casa quanto aos homens de negócio. Só que qualquer mulher sabe que o que faz o bolo crescer não são os ingredientes e sim o fermento. As boas línguas já estão comentando que a Esquire é que está sendo o fermento do Nacional.

* Amanhã é Dia do Comerciante. Nem é preciso dizer da importância que este setor tem para a publicidade.

Prêmio Remington de Prosa e Poesia* O assunto do momento nos meios literários é o “Prêmio Remington de Prosa e Poesia” criado pelas Lintas para a Sperry Remington. A divulgação da comissão julgadora ocorreu esta semana e nomes como Flávio Moreira da Costa, Affonso Romano de Sant’Anna, Hélio Pólvora, Dirce Côrtes Riedel, Silviano Santiago e José J. Vieira foram muito bem aceitos pelos poetas e prosadores brasileiros. “Gente de mentalidade arriada”, é o que todos dizem.

* Mais uma revista masculina no mercado esta semana – Psiu. Neste número 1, João Antônio, Wander Pirolli. Rubem Fonseca, Zélio, Jaguar e Jaime Cortez. Com tanta gente boa por que a revista tem que ser “masculina”? Mulher também gosta de se informar.

* A correspondência para esta coluna pode ser enviada para a Rua Barão de Itambi, 7/605. Flamengo. Rio.