Janela Publicitária    
 
  Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
 
A Fenêtre é a cobertura da Janela Publicitária em Cannes, com o apoio da GiovanniFCB em 2006.

 

21 de junho de 2005, quarta: A Fenêtre mostra o que ninguém mais mostra!

OPENING GALA: A FESTA CARETA MAIS LOUCONA DE CANNES
A impressão que se tem quando se chega no Opening Gala é a que acabamos de chegar no casamento daquela sua tia encalhada. Jamais você diria que é uma festa com essa gente prafrentex que é a galera de publicidade. Aí você descobre que pelo menos as mulheres, diferente da festa dos Youngs Holandeses que fui na segunda, vieram. Vieram fugidas das enfermeiras do Lar da Vovó Feliz, mas vieram.
Aí você resolve comer pra dar aquela forrada, já que nem lembrou de tomar Engov nem nada. O briefing para o buffet do Carlton, provavelmente era para ser o mais fiel ao festival possível. E como os caras não podem servir milhões de categorias de anúncios a ponto de você não conseguir acompanhar, servem milhões de categorias de comida.
Tinha de tudo: francesa, árabe, chinesa, japonesa, mexicana, zimbabueana.
Acho que eles quiseram representar o mundo todo no rega-bofe. Dentro dessa lógica, o Brasil deveria ser o cachorrinho quente de festa de criança que tinha por lá. Você já comeu caviar com cachorro quente? Ah, então precisa vir à Cannes.
Você come e vai beber. Quem comanda a pista, o mais pé de valsa, é o cara que acabou de apresentar a cerimônia de Radio, Media & Outdoor, com seu estilo meio John Travolta, meio Genival Lacerda.
De repente a festa parece melhorar e você ainda está no primeiro copo. Ah, é verdade, acabou o jogo da Suécia e da Inglaterra. Tinha uma turma vendo na praia ali ao lado. Aí meus amigos as suecas (ah, as suecas) e todas as outras louras que a gente acha que são suecas para ficar mais divertido começam a dominar aquilo.
Elas estão descontroladas. Toca uma música brasileira que ninguém nunca ouviu no Brasil (uma mulher com sotaque gemendo canta Em cima, em cima, embaixo, embaixo, assim...Samba de Janeiro...). Assim como alguns anúncios que a gente vê por aí, deve ter sido criada só para gringo ver.
Uma das suecas aparece com um bambu muito grosso (não me pergunte da onde ela tirou isso) e começa a fazer a dança da cordinha, imortalizada por esse baluarte da nossa cultura, o grande É o Tchan.
Diante da oportunidade ímpar de passar por situações vexatórias, um grupo de japoneses e afins se apresentar. Japonês se amarra nessas coisas. Aí eles passam debaixo do bambu, caem, dançam como se não houvesse amanhã, vão dar cambalhota e ficam mostrando o cofrinho, uma beleza. Alguém puxa um trenzinho que esbarra num cidadão que dançava loucamente uma música do ABBA, derruba a figura da mesa e ele vai parar na praia.
Na tentativa de acompanhar o ritmo frenético da rapaziada, você bebe um pouco e claro, precisa ir ao banheiro. Só que uma das portas do banheiro não é o banheiro, é um lugar reservado onde quatro ou seis gringos resolveram se amar no sentido nheco-nheco hardcore style da palavra. Ninguém te convida para participar. Você sai dali. Mas aí te chamam para ir para a festa dos Youngs ali do lado. Pode ser uma boa.

A ESBÓRNIA DOS YOUNGS
A primeira impressão que se tem ao chegar na festa dos Youngs é a de que ela é aquela mesa das crianças que fazem nos chatíssimos almoços de família. Mas não é. O pessoal é mais animado, as músicas são menos óbvias e você fica sem entender porque fazem uma festa separada para os Youngs.
Repara também que os Youngs são enganados. Dão para eles um cartãozinho escrito VIP, que não dá direito a entrar na Ilha de Caras, nem de comer tudo aquilo que tem na festa do lado. Só servem lá umas empadinhas e dão alguns tiquetezinhos de bebida. Isso, na cabeça de quem arma essas festas deve ser o equivalente a VIP para um Young.
As Youngettes, poucas, é que dominam a festa. O papo é mais bacana e o clima também. Ainda há salvação para o futuro da Publicidade.

RITMO, RITMO DE FESTA
Dan Zechinelli, Gláucia Nogueira e Carlos Renato Alê Braga e Pedro Prado

Leo ClaretNa festa de Gala, veja a foto acima à esquerda, o mineiro mais carioca da publicidade, Dan Zechinelli (RC), encontra a diretora Gláucia Nogueira (Net Filmes) e o pernambucano Carlos Renato (Arcos).
Na foto acima à direita, Alê Braga, da McCann Rio reencontra o ex-colega Pedro Prado, agora na F/Nazca. Aproveitou para mostrar o exame de DNA que comprova que parecem, mas, afinal, não são irmãos.
Aqui, do lado direito, o young carioca Leo Claret (F/Nazca), chegando na festa dos Youngs. Estava amarradão com a sua estréia no festival.

DE BARRADO A CARRASCO DO BRASIL E CAMPEÃO

Fabio Seidl, o Ronaldo Fenômeno de Cannes
Fabio Seidl, o Ronaldo Fenômeno de Cannes.

Fabio Seidl, ainda com o uniforme do futebol, cheio de areia, imundo feito um porco, alheio aos olhares de novo da sala de imprensa, mas escrevendo para contar como tá isso aqui. É galera, o pessoal montou o time do Brasil, pedi pra jogar, mas fecharam tudo lá em São Paulo e não deu. Aí, ironia do destino, o Brasil foi jogar com Portugal. Que me aceitou no time. Confesso que no início, não foi uma sensação muito legal. Mas ganhamos de 4x2.
Nossa gloriosa “equipa”, como se diz lá em Portugal, passou também pela Holanda que tinha a espantosa marca de 27 gols em 4 jogos, vencemos a laranja mecânica publicitária, que eu até agora desconfio que eram os ogros do filme Senhor dos Anéis disfarçados de publicitários, por 8x6.
A final, com o México, acabou 3x1 para Portugal, consagrado como Campeão de Cannes.
Esta noite, na cerimônia de entrega de Press & Cyber, subiremos ao palco para receber do CEO da Adidas o troféu e as medalhas. Para homenagear esta união Brasil-Portugal, vou subir com a camisa do Vasco da Gama.
Para o pessoal de Portugal que lê a coluna, nosso time era na verdade um bando de malucos que mal se conhecia: Fred Saldanha (Grey) com 3 graus de miopia, jogando sem óculos na baliza, Nuno Jerônimo (BBDO), o Tomás e o Vasco da Partners, o Pedro e Ricardo, da Bates. O argentino El Loco Chacho (Leo Burnett) jogou alguns minutos ontem, mas de ressaca, não conseguiu entrar em campo hoje. Na frente, à lá Ronaldo (o Fenômeno, não o Cristiano), este vosso amigo. Obrigado a todos pela força. E se o Scolari precisar, estamos aí.

N.R.: Fabio, olhando assim pela sua foto, você não está um pouco gordo? (M.E.)

OUTDOOR, RADIO & MEDIA LIONS
O palco da festaVocê acha que ganhar um leão de bronze é superimportante, certo? Pois é, mas a organização do festival parece a cada ano dar um jeito de apertar os pobres Bronzes na cerimônia de entrega. Agora eles passam todos de uma vez, antes de começar a categoria, como se fossem aqueles créditos de final de filme e separados por país.
Engraçado foi ver que alguém descobriu que tinha ganho leão de bronze só naquela hora e começou a gritar e pular no auditório, o que fez o apresentador comentar: “Imagina a reação de quem vai subir aqui para ganhar ouro.”
Mas até que não houve grandes salamaleques. A curiosidade é que no palco subiram dois brasileiros exportados: Rodrigo Butori, da Ground Zero Los Angeles que faturou com o cartaz de Do You See Music? Para Virgin e Ícaro Dória da Saatchi NY, que ganhou com a campanha de Stuff It.
A Saatchi aliás lidera até agora a corrida para network do ano. Até aqui, passaram o rodo.
No mais a cerimônia foi ágil e boa. Um bom início para hoje, quando temos Press e no final da semana, com Film.

ORELHADA
Você comanda uma agência que ganha um prêmio importante para uma campanha em Cannes. Qual a carreira você daria para esta peça nos outros festivais? Inscreveria, certo? Então puxa pela memória e você vai sacar que uma recente campanha (gringa) que fez sucesso em Cannes não apareceu mais em outros festivais.
O motivo? Pela orelhada que eu peguei ontem em Cannes, a campanha não tinha autorização do cliente para ser veiculada e o anunciante, depois da exposição que teve no festival, resolveu falar. O caso teria sido resolvido e abafado. Mas a campanha não foi mais inscrita em lugar nenhum depois de Cannes.
Pode ser só intriga. Mas veio de alguém muito perto do júri e não deixa de ser estranho.

NO ELEVADOR
Marcelo Noronha, antes e depois do PhotoshopEncontro o grande diretor de arte da NBS, Marcelo Noronha, entrando no elevador.
- Fala, Noronha!
- Fala, Fabinho!
- Bom te ver cara, tá gostando?
- Quanto tempo, mermão. Tô correndo ali para ver uns filmes, vai lá?
- Não dá cara, depois a gente se fala então. Posso tirar uma foto tua pra mandar pra Fenêtre?
- Pô, cara, eu não saio bem em foto...
- Sabe o que é? Se eu não tiro foto da galera o Marcio Ehrlich me enche o saco.
- Mas...
Click.
- Peraí você já tirou? Aqui no elevador? Vou ficar esquisitão, mete um Photoshop nisso aí para eu ficar com uma cara bonita.
- Pode deixar, Noronha, vou fazer o melhor que eu puder.

VARIG, VARIG, VARIG
A orelha da turma do Varig deve continuar ardendo. Ainda tem gente chegando atrasado ao festival por causa da companhia. Vários eram jornalistas que começaram a cobertura do evento só ontem.

John CleeseFALANDO EM PALESTRA
Hoje tem um dos meus ídolos falando aqui em Cannes. John Cleese, do Monty Phyton, vai apresentar o seminário The Art of Football, organizado pelo cineasta alemão Hermann Vaske. No filme que Vaske vai apresentar tem uma mão da brasileira Margarida Filmes, que filmou alguns trechos que se passam no Brasil.

TU NÃO TRABALHA NÃO, FABIO?
É verdade, ainda não falei dos filmes e o já, já, teremos o short list. Não vou mentir. Tá chato pra cacete o long list. Muita coisa, fico imaginando como fica o critério (leia-se saco) do júri depois de cento e tantos filmes de carro ainda tenho que ver mais 250. Fora as outras categorias. Claro que é legal para ver as categorias em que atuam seus clientes, mas tem sido um massacre. O que se comenta também é que quem chegou como favorito a GP foram o Choir, da Honda e o Evolution, da Guiness. Mas esse feeling é meio furado. Aplausos ou vaias nos auditórios no Palais nunca ganharam leão para ninguém. Vamos ver.

NÃO FALEI PARTICIPAÇÂO DO BRASIL.
E precisa falar? O clima aqui não tá nada legal.

OBRIGADO!
Galera ligada na Fenêtre: Mario Barreto (Imagina), Marco Leal e Antonio Páscoa (McCann), Rui Oliveira (Meios e Publicidade) e Sérgio Cardoso (Cine). Valeu pelas mensagens! Imagino que vocês saibam que tem uma Copa do Mundo rolando que é bem mais interessante do que isso aqui, né?

As Notícias do Dia
por Marcio Ehrlich

Com 9 Leões, Brasil também cai em Cyber

A premiação Cyber Lions repetiu o retrato de mau desempenho do Brasil no Festival de Cannes 2006. Contra 23 Leões conquistados em 2005, o país ficou este ano com apenas 9 prêmios. A DM9DDB, que ano passado chegou a receber o título de Agência do Ano da categoria, garantiu 3 dos 9 Leões.
O país com melhor desempenho no Cyber Lions foram os Estados Unidos, com 25 troféus, entre os quais dois GPs. A Inglaterra veio em seguida, com 12 Leões, deixando o Brasil em terceiro.
Vejam a relação dos brasileiros premiados:

Ouro:
- "Crash", da DM9DDB para Itaú Seguros
- "Oops", da Euro RSCG 4D para Poliflor da Reckitt Benckiser
- "Water Purifier", da AgênciaClick para Multibras - Brastemp
- "Scroll", da F/Nazca S&S para Panela T-Fal da Arno.

Prata:
- "Paths", da Publicis para General Motors
- "Shake",da Agência Click para Sexy Magazine da Editora Peixes.

Bronze:
- "Lesson 13", da DM9DDB para Cia Athletica
- "Dog", da LoV, para Mitsubishi Eclipse 2006
- "Zzzzzzzzz", da DM9DDB para Acesso de Internet da Telefônica.

Infelizmente, este ano, a organização do festival não incluiu na relação dos concorrentes o endereço da Internet onde as peças poderiam ser vistas. Espera-se, porém, que até esta quinta-feira os trabalhos estejam reproduzidos no site oficial do Cannes Lions.

Giovanni recusa Leão de Bronze

Aconteceu a primeira polêmica envolvendo o Brasil no Festival de Cannes 2006. A Giovanni está distribuindo o seguinte release:
"A Giovanni,FCB não receberá o Leão de Bronze conquistado em Cannes com a campanha "Ovo/Chupeta/Feto/Ursinho", criada para o IPAS. A agência já pediu a exclusão das peças do Festival. A ONG IPAS não é cliente da Giovanni,FCB, e as peças foram criadas e inscritas em Cannes por profissionais que não estão mais no quadro de funcionários e à revelia da direção geral da agência. Vale ressaltar que a Giovanni,FCB não assinou esta campanha e nunca apoiou a causa a que ela se refere."

Leão da ONG Ipas gera batalha de comunicados

A campanha da ONG Ipas, que havia conseguido um Leão de Bronze em Press, recusado pela Giovanni FCB, continuou gerando polêmica ao longo do dia.
A assessoria de imprensa da agência Santa Clara, do ex-diretor de criação da Giovanni São Paulo, Fernando Campos, distribuiu o seguinte comunicado, para responder ao comunicado inicial da Giovanni:

COMUNICADO DA SANTA CLARA
A propósito do comunicado expedido na manha desta quarta-feira pela Giovanni FCB, a respeito da devoluçao do Leao de bronze conquistado em Cannes, o publicitário Fernando Campos, ex-diretor de criaçao da agência tem a esclarecer que:
(1) A informaçao de que a peça para a ONG Ipas foi inscrita “à revelia da direçao da agência” é improcedente, visto que para ser encaminhada para o Festival de Cannes o material teve de ser autorizado pela direçao geral da agência no Brasil. A peça recebeu também aprovaçao da FCB internacional, tanto que consta no portfólio mundial da rede, o FCB World Creative;
(2) A ONG Ipas fez parte, sim, da carteira de clientes da agência, sendo que as reunioes eram realizadas no escritório da Giovanni em Sao Paulo, com o conhecimento de toda a diretoria;
(3) Embora nao entenda os motivos que levaram a agência a tomar esta decisao diante da conquista de um prêmio tao importante, o publicitário afirma que a Giovanni tem todo o direito de devolvê-lo.

Em seguida, a assessoria de imprensa da Giovanni FCB distribuiu um novo comunicado, com o qual pretende encerrar a polêmica:

COMUNICADO DA GIOVANNI
A Giovanni,FCB, através de sua assessoria de imprensa, esclarece de forma definitiva os motivos pelos quais recusou o Leão de Bronze no Festival de Cannes para a ONG Ipas.
A agência compreende a frustração dos criativos envolvidos na campanha e sabe da importância da conquista de um Leão para esses profissionais. No entanto, a direção geral da agência mantém a afirmativa de que a inscrição da campanha “Chupeta/Urso/Feto/Ovo” foi autorizada pela diretoria de criação do escritório de São Paulo, que pela representatividade do cargo tem autonomia para selecionar e inscrever as campanhas criadas para os clientes da Giovanni,FCB.
À diretoria financeira cabe apenas a autorização dos custos relacionados ao Festival, não tendo acesso ou discernimento sobre as peças selecionadas pelos diretores de criação.
Da mesma forma, a diretoria de criação tem autonomia para enviar ao portfólio mundial da FCB as principais peças criadas para os clientes no Brasil. Geralmente, as peças não são submetidas à autorização da direção geral.
Apesar de atender várias ONGs e ter um departamento de Responsabilidade Social Corporativa, não consta e nunca constou na relação de clientes da Giovanni,FCB, a instituição Ipas.
Se algumas reuniões foram realizadas nas dependências do escritório em São Paulo, ocorreram sem o conhecimento da direção geral. Provavelmente pelo fato de a responsável pela instituição ser mãe de um dos autores da campanha. É comum os funcionários da agência receberem fornecedores (produtoras, veículos, etc), e a direção geral não costuma ter controle de todos que visitam o escritório.
A Giovanni,FCB recusa este Leão, firme na sua postura de que a ética vale mais do que qualquer premiação, por mais importante que seja. E deseja boa sorte aos seus ex-criativos para que possam conquistar novas premiações, desde que legítimas.

PARA QUEM VAI O LEÃO?
O que todo o mercado está se perguntando é se o fato de a campanha ter sido criada por profissionais que já deixaram a agência é motivo suficiente para a a Giovanni FCB recusar o Leão.
Claro que não pode ser isso.
Pelas informações que chegaram à Janela, por trás da decisão está o questionamento que grupos católicos tradicionalistas teriam feito à diretoria da Giovanni FCB por ela estar assinando peças de publicidade defendendo o aborto. Como esta é uma bandeira que não interessa à diretoria da agência agitar -- com todo o direito que, afinal, ela tem de estabelecer o seu policy --, não teria restado à Giovanni FCB outra alternativa que publicamente repudiar a campanha, deixando claro, nas últimas palavras do seu comunicado original, que "nunca apoiou a causa a que ela se refere".
Até o momento, a organização do festival não se manifestou para confirmar ou não o cancelamento da premiação, se é que isso é possível, já que considerar as peças criativas foi uma decisão do júri e não dos organizadores.
Se a questão for a origem do pagamento da inscrição das peças, seria possível os criativos envolvidos reembolsarem a Giovanni FCB e retirarem o nome da agência da ficha técnica, passando a assinar a campanha como free-lancers?
Vamos aguardar pra saber.

O redator Fabio Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela em Cannes 2006.