Janela Publicitária    
 
  Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
 
A Fenêtre é a cobertura da Janela Publicitária em Cannes.
 

23 de junho de 2009, terça-feira

O FESTIVAL DE CANNES ESTÁ MORTO. VIVA O CONGRESSO DE CANNES.

Garfield & Seidl No ano passado, escrevi aqui na Fenêtre que o Festival estava se consolidando como um grande painel de seminários, devido a mudança de posicionamento que os organizadores começaram a fazer.
Ninguém deu bola.
Na abertura da nossa cobertura, há uma semana, escrevi aqui que o Festival não tinha este ano grandes atrativos na disputa pelos leões.
Ninguém nem falou nada.
Uma semana depois disso, o Bob Garfield, um dos jornalistas mais respeitados do mundo escreveu na abertura dos seus trabalhos sobre o festival: “Cannes não importa mais.” Todo mundo comentou.
Isso só confirma duas coisas:
1- A absoluta falta de credibilidade e audiência desta minha coluneta.
2- E confirma também o que eu disse.
Só que hoje, no terceiro dia de festival, deu pra perceber que, ao contrário do que o Garfield diz, Cannes ainda importa, mas de outra maneira.
Estive no Grand Auditorium, com lugar para milhares de pessoas, para assistir a exibição das principais categorias de filmes. No primeiro ano que vim cobrir Cannes, em 2000, tive que ficar do lado de fora, vendo os filmes por uma TVzinha.
Pois bem, hoje pela manhã, contei 22 pessoas. Fiquei lá por 1 hora. A categoria “Miscelânea” durou 5 minutos. “Produtos de Higiene” durou 15.
Fui assistir a palestra da Naked. Tinha gente sentada no chão. Mais tarde, na da agência holandesa 180, tinha gente no colinho. A das agências independentes, cheiaça também. Vou falar sobre as palestras na segunda parte do meu boletim de hoje.
Então resolvi abrir a coluna de hoje com um título sensacionalista, para mostrar que isso aqui mudou e ver se alguém resolve ler essa chubanga.

FAZENDO CERIMÔNIA

Leo Burnett Portugal e Tura Segunda-feira, na falta de algo melhor para fazer, fui assistir a premiação de Promo, PR e Direct, mas cheguei a conclusão que elas três são mais ou menos como aquele namorado da Madonna, o Jesus: é a premiação três-em-um: pai, filho e espírito santo. Afinal, o que ganha em PR, também ganha em Promo e Direct. O GP de PR é o mesmo de Promo. Ou seria de Direct? E a Leo Burnett Portugal saiu de lá ontem com 6 leões, com 3 cases. É a multiplicação dos Leões.
Quem também está em todos os lugares ao mesmo tempo é a minha amiga, a cachorrinha Tura. Subiu no palco ontem três vezes - conforme antecipei aqui - e roubou todas as atenções. Super comportada, a Tura, diga-se.
A crise é tanta que Cannes está aceitando a inscrição dos bichinhos de estimação da galera.

 

 

ENGATANDO A SEGUNDA

Eu sempre imaginei como seria Cannes fora do perído do Festival.
Ontem eu descobri. Caiu uma chuva ontem aqui, esfriou, não tinha nenhuma festa na Croissette, ninguém na rua, poucas pessoas jantando e para a minha surpresa, nem o Accioly, da Margarida Filmes, está aqui!
Me disseram que ele teve que ficar por causa de trabalho. Mas eu não acredito. Afinal todos nós sabemos que existem vários Acciolys. Como assim Festival de Cannes sem o Accioly saindo em todas as fotos? Precisamos fazer alguma coisa.

FÓRMULA HMMM...

Accioly na WilliamsChama a atenção na frente do Palais um carro da Williams de Fórmula 1.
Todo mundo para ali pra tirar fotos, mas o que também é curioso é que ele está ali anunciando o seminário que o Canal de TV paga Eurosport ofereceu ontem no Palais justamente falando sobre as oportunidades de comunicação e vantagens da Fórmula 1 para o mercado. Isso justamente na semana que as principais equipes do circuito mundial anunciaram que pretendem se retirar da competição e criar uma outra. Deu preju até para quem promoveu a palestra em Cannes.

 

ALALAÔ

Depois da chuva de ontem deu o maior praião hoje aqui em Cannes. Não sei como está para vocês trabalharem aí nas cidades de vocês, mas aqui está bacana.
Queria aproveitar e mandar um abraço para meus colegas de trabalho lá na Vila Clementino, em São Paulo.
Vocês que pegam uma hora de engarrafamento na 23 de Maio aí em São Paulo. Lembrei de vocês quando saí do meu hotel e vi as moças indo seminuas para a praia. Cada pechoca que vocês não acreditam.

 

LUGAR DE BRASILEIRO É NA PRAIA

Muito bacana o stand da Film Brazil na praia da Croissete. O pool brasileiro de produtoras está recebendo seus potenciais clientes e parceiros com caipirinha e num espaço caprichado.

AQUECIMENTO GLOBAL DEIXA PREFEITURA DE CABEÇA QUENTE

Falando em calor, os cartazes da ACT, instituição que discute a responsabilidade social na publicidade foram proibidos pela Prefeitura de Cannes, que os considerou...irresponsáveis. As peças de outdoor que estavam espalhadas pela cidade trazem a imagem de uma menina na forca em cima de uma geleira derretendo. Agora, a ACT só pode exibir o cartaz agora dentro do Palais. Parece que no final, a forca virou um tiro no pé.

MARCIO EHRLICH ARRUMA BOCADA PRO PRIMO EM CANNES

Os Ehrlich não são o Accioly, mas estão em tudo que é canto também. Não é que o Marcião arrumou uma bocada para seu primo alemão Matthias Ehrlich falar na tradicional palestra do Hermann Vaske aqui no Palais?
Isso aqui já foi melhor frequentado. Os seminários anteriores de Vaske já contaram com integrantes do Monty Phyton, com o ator Dennis Hopper, o produtor Malcolm McLaren e agora...o primo do editor da Janela Publicitária. Isso é que é crise.
O tema da palestra é criatividade digital (Marcio, esse não era assunto pro Leo, seu filho?), mas no final espera-se que Matthias Ehrlich convide todo mundo a inscrever algumas peças no Premium Collunisten de Munique.

N.R.: Fabio, eu repilo essas acusações de nepotismo. Posso jurar, por São Luis do Maranhão, que nem sabia que eles tinham sido contratados. Aliás, esta crise não é minha, é do festival. Não fui eleito editor da Janela para limpar as lixeiras do Palais. Eu tenho uma história. Não posso ser julgado como uma pessoa comum. (M.E.)

CARA-DE-PAU LIONS

A falta de dinheiro no mercado faz com que a galera invente mesmo.
Olha só o que neguinho da Brand New Telly fez: sabendo da presença do diretor de marketing da Coca-Cola, Jonathan Mildenhall, em Cannes (falou hoje no seminário da Naked, leia na segunda parte da Coluna), colocaram um cartaz na frente do Palais pedindo refri de graça pra sua festinha.

E ontem, ao lado do Carlton, um mendigo pedia dinheiro com o seguinte cartazete: “É só para comprar goró e drogas.” Estava faturando bem e já tinha vagabundo querendo saber se podia ter uma participação no produto final. A ideia é boa, mas é a primeira chupada de um mendigo que aparece em Cannes. A piada já tinha sido feita pelos brasileiros da TV Pirata nos anos 80, olha lá no Youtube.

 

MOMENTO MÃE TÔ AQUI

Olha aí a galera capturada pelas lentes míopes da câmera da Fenêtre aqui em Cannes.

 

N.R.: Vem cá, Fabio, tem 8 anos que você está nessa bocada, passando por free-shop na ida e na volta, e ainda não meteu a mão no bolso pra comprar uma câmera decente???? Por favor... (M.E.)

Diogo Melo e Dani Ribeiro
  Diogo Mello, comemorando a Prata em Press pela Fischer Portugal, com a colega Dani Ribeiro, da Fischer Brasil.
Marcelo Noronha, André Lima e André Havt, da NBS, encontram Bernardo Romero e Ricardo Lima, da Artplan. Paulo Junger, da Africa e o paranaense Vítor Afonso
Marcelo Noronha, André Lima e André Havt, da NBS, encontram Bernardo Romero e Ricardo Lima, da Artplan. O carioca Paulo Junger, da Africa e o paranaense Vítor Afonso (também conhecido como Zeca), da Master.
Fernanda e André Pedroso Karen, da Red Bandana encontra Bruno Bertani e Ricardo Saint-Clair, da Dialogo/Indústria Nacional
O casal Fernanda e André Pedroso (DM9DDB). Design brasileiro reunido: Karen, da Red Bandana encontra Bruno Bertani e Ricardo Saint-Clair, da Dialogo/Indústria Nacional.
Dan Zecchinelli Milton Mastrocessario, o Cebola, da McCann
Dan Zecchinelli, diretor de criação da Filadélfia. Milton Mastrocessario, o Cebola, da McCann.

CORRESPONDÊNCIA

O camarada Rafael Simi, criativo da Heads, “comentou o comentário”, do Marcio ontem sobre a falta da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para exercer a profissão.
Fala, Rafa:
“Passei cinco anos nessa área, dois deles escrevendo para "Extra", "O Globo" e "O Globo Online" e nunca tive diploma (...) E sua cobertura é muito mais engraçada que o noticiário do Congresso Nacional, por exemplo. Parabéns para a cobertura do Janela. O Marcio, do Brasil, também tá trazendo boas notícias.”

Seidl Responde:
Obrigado pelas suas palavras e cascatas de incentivo, Rafael. Sobre aquela grana que eu tô te devendo, olha, depois eu pago, deixa só o Márcio depositar o meu cachê, fica tranquilo.
Sobre ser mais engraçado do que a cobertura do Congresso Nacional, não vale. É como dizer que sou mais divertido do que a página de obituários também.
E olha, não tenho a pretensão de ser jornalista. Jornalistas de verdade são os caras que estão aqui virando noite atrás de furos, contabilizando os leões, twittando, filmando, ligando, falando com Deus e o mundo, escrevendo até criar calo, para informar a quem está no Brasil algo realmente relevante.
Mas, sim, tenho aprendido muito com o professor Marcio Ehrlich. Por exemplo: ser cara-de-pau. Pedi pra assessoria de imprensa aqui um convite pra Gala de Abertura do Festival usando o argumento: “eu preciso muito escrever sobre isso”. E eles deram!
Aí fui lá e espalhei pros jornalistas que ganhei o convite e eles foram lá pedir também.
Não sou jornalista, mas em compensação tumultuo a vida da assessoria de imprensa dos eventos.

De Dan Zecchinelli:
"Grande Fábio, sua coluna está tão boa quanto nos anos anteriores. Na verdade melhor ainda, porque você consegui fazer com que minha foto ficasse satisfatória. Abraço."

CANNES PENSA

Em vez de ficar lendo a Fenêtre que é um festival de bobagens, este vosso amigo recomenda também que você dê uma olhada nos seminários e entrevistas que estão rolando no site oficial do evento: www.canneslions.com
A programação é tão intensa que o festival criou até esse painel interativo com a programação para você escolher o que quer ver e receber uma agenda personalizada no seu email (o que é bom para quem baixa email para o celular).
Hoje assisti a 3 seminários, todos com um bom nível.

NAKED

A agência americana convidou três responsáveis por marcas de respeito: Nike, Coca-Cola e Google.

E basicamente, o que eles fizeram foi colocar um pouco de pé no chão sobre as mídias sociais e conteúdo público.

Eu, particularmente, sou um pouco cético quanto a algumas febres de internet. Escrevi, na época da Janela Internacional, que achava que o Second Life não duraria 2 anos. Não durou. O Orkut está definhando. E agora todo mundo só fala em Twitter.

Ontem, o fundador do Twitter veio aqui e para um auditório lotado, apresentou sua empresa, falou que lá só trabalham 50 pessoas e que eles quando criaram a ferramenta não tinham ideia do que estavam fazendo. Não apresentou outras coisas criadas por ele, mas pelas padarias que anunciam seus pãezinhos quentes e empresas que anunciam suas festas.

A platéia saiu decepcionada.

Pois bem. Hoje o Andy Barnes, do Google, vem aqui e já deixa claro: “nós somos uma empresa de engenharia da informação e estamos sempre procurando coisas diferentes para se construir com ela.”

Entenderam onde mora a diferença?

Jonathan Hiddenhall, da Coca-Cola, também mostrou que sabe onde pisa: “somos uma marca compreensiva (...) olhamos e entendemos os comportamentos para saber o que criar a seguir.” Nem antes, nem junto: a seguir. Foi além: “A criatividade sempre foi algo orgânico e hoje, mais do que nunca, não pertence a ninguém, cabe às marcas saber o que fazer com isso.”

A discussão gerou em torno de quanto tempo o público, que hoje também é produtor de conteúdo, aguenta suas próprias ideias e o que as marcas tem que fazer com este comportamento. Não com essas ideias.

Ou, aí já sou eu cruzando as palestras, voltando ao Twitter, por quanto tempo vai haver interesse e tempo para postar e de ler?

Nike - Take It To The Next LevelSteve Olander, da Nike, foi mais direto: “a nova mídia não é mais chamada de nova (...) a nossa realidade é e sempre foi entreter mais e surpreender mais.”

Ou seja, o que o consumidor espera das grandes marcas é que elas sejam grandes e não somente que também saibam o que é Twitter e Youtube. Ou como diria a própria Nike na sua campanha do ano passado: Take it to the Next Level (Levem para o Próximo Nível).

É hora de separar os brinquedos das máquinas de fazer dinheiro.

180

A palestra da holandesa 180 foi basicamente uma apresentação de cases fantásticos para clientes como a Adidas e várias outras peças que ganharam Grand Prix e Leões por aqui. Interessante pra cacete, mas não muito inspiradora.

NETWORK ONE: SANTA CLARA, SS+K, FORSMAN & BODENFORS

Fernando CamposA palestra do grupo que reúne agências independentes do mundo todo contou com o brasileiro Fernando Campos (foto à esquerda), da Santa Clara que, assim como seus dois outros co-palestrantes, apresentou como trabalham suas empresas.

Fernando tinha um ponto claro: “falar de comunicação integrada é partir do princípio que ela está desintegrada e nós nunca acreditamos nisso.” E mostrou que a Santa Clara se integra naturalmente, inclusive na hora de ter as ideias, não importando o departamento ou na hora de escolher em que lugar da casa da Santa Clara, os profissionais se sentam para trabalhar.

E apresentou cases premiados como FunkTube, da Som Livre e Fila.

Antes de Fernando, subiu ao palco Bradley Key, da novaiorquina SS+K. E mostrou que a agência trabalha com um “Monitor de Forças Sociais”, que analisa justamente hábitos e comportamentos. Segundo Bradley, um dos momentos que passamos atualmente é o que eles chamam de Reconsideração, uma nova análise de tudo que fazemos: desde a decisão do que vamos fazer com o lixo de casa (reciclar ou não e como) até mesmo se vamos ou não a Cannes.

E mostrou como eles reconsideraram o mundo das notícias, juntando eles com entretenimento e criando o NewsBreaker, um jogo que informa as últimas notícias, para a MSNBC. (veja abaixo, do lado esquerdo).

Ou como eles entenderam, através do tal monitor, que os consumidores estavam vivendo um Período “Rebelde” e um mobiliário urbano interativo para a Credo Mobile dava voz ao público (abaixo, do lado direito).

No fim, Filip Nilsson da Forsman & Bodenfors. O sueco, figuraça, contou, entre outras coisas, como chegaram a ser a terceira melhor agência digital do mundo, segundo Cannes, sem nunca terem sido uma agência digital.

Criticou o atual formato das agências, que privilegia a hierarquia e é o mesmo desde a segunda guerra mundial. Na F&B, ele contou, metade da agência é de criativos, 27 pessoas são sócios e todos, tirando o presidente e o pessoal do financeiro, tem compromisso em ter ideias para todas as mídias que possam servir. Um formato, segundo ele, que já foi chamado de comunista, mas que eles insistem em usar porque acham que é um formato que só atrai quem gosta muito de comunicação.

Também alfinetou as mídias digitais que se dizem tão modernas, mas o que mais produzem são sites caretas, diagramações caóticas. Dá uma olhada no site deles que dá pra sacar do que o Nilsson está falando: www.fb.se

“Enquanto todo mundo se pergunta: Para onde vamos?”, disse ele no final, “eu acho que já sei: vamos para todos os lugares.”

Então vamos nessa que é para não perder o bonde. Até amanhã.

O redator Fabio Seidl é o enviado (com todo o respeito) especial da Janela em Cannes 2009.