• Morre Eugênia Nussinkis, principal introdutora do GRP no Brasil

    Aos 89 anos, faleceu no Rio Eugênia Nussinkis, uma das mais polêmicas profissionais de anunciante da história da propaganda brasileira. Temida pelas agências por seu temperamento pouco amigável, a gaúcha Eugênia conseguiu, com isso, implantar um alto nível de exigência na área de mídia, a atividade em que começou profissionalmente, em empresas como Interamericana e Alcântara Machado.

    Quando gerente de propaganda da Gillette — conta da Alcântara Machado –, nos anos 60 e 70, “Dona Eugênia”, como o mercado se referia a ela, passou a cobrar critérios cada vez mais técnicos dos planejamentos de mídia, ajudando a implantar no Brasil o conceito do Gross Rating Point (GRP), apoiada por Otto de Barros Vidal, daquela agência. Junto com outros profissionais, lutou pela implantação do instituto AudiTV, para auditar a audiência das emissoras de televisão brasileiras.

    Essa sua preocupação com a profissionalização dos dados de mídia a levaram, inclusive, a presidir entre 1977 e 1978 o Instituto Verificador de Comunicação (IVC) e ultimamente ser sócia da empresa Media Systems, de auditoria de mídia para anunciantes de grande porte.

    (A foto de Eugenia Nussinkis é do arquivo de Zilda Knoploch, e publicada no site propmark)

    O GRP

    Segundo o livro “Grandes Nomes da Mídia Brasileira”, O GRP media o somatório das audiências dos comerciais dentro de uma determinada programação. Se um comercial no Flavio Cavalcanti dava 20 pontos de audiência, outro gerava 50 pontos na principal novela da Globo e outro no Silvio Santos dava 20, o comercial teria 90 pontos. De posse dessa soma, o mídia a cruzava com uma tabela americana e observava quanto estava atingindo nos lares com televisão e com qual frequência média. O GRP, portanto, determinada o nível de esforço que o anunciante teria de fazer para garantir uma boa cobertura para seus comerciais.

    Marcio Ehrlich

    Jornalista, publicitário e ator eventual. Escreve sobre publicidade desde 15 de julho de 1977, com passagens por jornais, revistas, rádios e tvs como Tribuna da Imprensa, O Globo, Última Hora, Jornal do Commercio, Monitor Mercantil, Rádio JB, Rádio Tupi FM, TV S e TV E.

    Envie um Comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


    Discussão

    1. Antonio Luiz Accioly Netto

      Eugenia Nussinkis
      Hoje li no O Globo a triste noticia do falecimento de Eugenia Nussinkis. Não sei se algum publicitário, notadamente Mídia sabe bem hoje quem foi Eugenia Nussinkis. Para mim que fui Mídia nos anos 1960/1970 ela foi o ápice do conhecimento de Media (como então se escrevia) durante muitos anos. Diretora (ou Gerente) de Mídia da Gillette, ela trouxe para o Brasil várias técnicas inovadoras de programação e conhecimento obtidos na sua matriz dos Estados Unidos. Fluente em inglês, numa época em poucos o eram, ela voltava de cada viagem e estágio profissional com munição e conhecimento que posso afiançar ninguém possuía no Brasil. Sua agencia, a Alcântara Machado, tinha de se aperfeiçoar permanentemente para poder pelo menos acompanhar seu trabalho. Principalmente o diretor de Mídia da agencia, Otto Hitler de Barros Vidal Jr. que vinha de São Paulo semanalmente para reuniões em que eram estabelecidas as estratégias de programação do cliente Gillette. Se muitos destes estudos ficaram dentro de sigilo absoluto, pelo menos um veio a público que foi o GRP (Gross Raiting Point). Ninguém sabia o que era isto e as emissoras de televisão – que eram muitas – tinham verdadeiro pavor destas 3 letrinhas. Eu mesmo ouvia os contatos das TVs falarem nisto sem saberem (inclusive eu) o que era . Tive a sorte da conta da Gillette vir a ser dividida entre 2 agencias para o lançamento das canetas Paper Mate no Brasil. Esta parte da conta foi para a Esquire aqui no Rio de Janeiro e sua gerente de Mídia a Maria Salomé Gimenez pessoa super querida de todos e muito considerada pelo tempo de profissão, num gesto de absoluta lisura e simplicidade (e até honestidade) me procurou para que eu a ajudasse a entender o que era o GRP pois ela não conseguia assimilar para que servia e muito menos como aplicá-lo. De posse destas informações fui à cata de publicações e revistas de advertising americanas e consegui traduzi-las de forma a escrever várias apostilas técnicas que compartilhei com a Salomé para compartilhar com ela em seus planejamentos. Como estas apostilas se tornaram conhecidas, algumas pessoas passaram a me considerar especialista em GRP, o que não era verdade, visto que coube à Eugenia Nussinkis sua real introdução na Mídia brasileira. Eugenia era tida como durona, seca e pouco amistosa. Ela de certa forma infundia terror às áreas comercias das emissoras de TV. Mas um dia o Otto me telefonou de São Paulo dizendo que a Eugenia queria me conhecer e marcamos de visitar a Gillette. Realmente eu fui lá com algum temor, face a divulgação de meus trabalhos, imaginei a bronca que poderia vir da parte dela. Mas lá chegando ela foi gentil e disse que apenas queria me conhecer pessoalmente. O encontro foi breve e aproveitei para conhecer as instalações da Gillete, que ocupavam uma área imensa em Benfica (hoje desativada). Foi nesta visita que ganhei dela um aparelho de barbear de dupla lâmina, então absoluta novidade no Brasil. Como eu não conhecia o aparelho, aproveitei para perguntar qual a diferença entre se usar sabão (ou shampoo) comum e o creme de barbear da Gillette. Ela deu uma gargalhada e exclamou para o Otto: “Mais um freguês que usa sabão comum para fazer a barba !”. Muito sem jeito eu disse que não,que eu usava mesmo sabão de barba, só queria saber a diferença, por que o sabão comum(ou shampoo) secava e ficava duro e poucos segundos. ela me explicou o segredo do creme da Gilette : “Tem lanolina”. Nunca mais esqueci e o uso até hoje… Com o tempo passei a conhecer melhor a Eugenia e descobri que ela era uma pessoa absolutamente doce, gentil e que não se negava a transmitir seu conhecimento (desde que não fosse sigiloso ou confidencial). Ela morava na Rua das Paissandu no Flamengo num apartamento simples onde tomava conta de seus pais já idosos e de seus gatos. A Eugenia tinha ainda um fator hipnótico (alem de sua simpatia) que era um pequeno ponto (como se fosse uma espécie de 2ª. pupila sobre a íris em uma das vistas) o que – pelo menos para mim – era uma atração magnética de forma a que sempre que conversava com ela era praticamente obrigado a manter minha visão “fora” daquela 2ª. pupila. Muito aprendi com Eugenia Nussinkis. E muito mais do que conhecimento técnico, aprendi a ver como uma pessoa super poderosa, terror das grandes redes de TV poderia ser simples, afável e gentil no trato com todos. É uma grande perda para a publicidade brasileira.

    seta
    ×