• Coca-Cola com Toddynho

    É injusto julgar os jovens profissionais do mercado de comunicação de hoje sem um referencial para basear uma análise que seja minimamente válida.

    Eu, por exemplo, fui criado em pleno sonho americano, onde os automóveis eram enormes e o sucesso profissional era evidenciado por ternos bem cortados e sapatos lustrosos. Havia competitividade. Ambição. Sonhos de consumo.

    Já jovem adulto, vi esses padrões serem quebrados, quando adentrei um mercado publicitário que não ostentava mais aquele cenário elegante tão bem retratado na série Madmen. Cheguei um tanto depois do Don Draper, azar meu. Com minhas longas madeixas até os ombros, calçando tênis velhos e vestindo calças jeans rasgadas e desbotadas, vim ao mercado junto com uma geração que negava toda a circunspecção e a pose dos antigos escritórios de publicidade. Geração Coca-Cola.

    Hoje, vejo os moleques que aparecem nas empresas de bermudas e chinelos, com um ar tão ou mais despojado do que aquele que eu ostentava naqueles tempos. Uau, né? Num rápido olhar, a gente até pensa que são ainda mais descolados dos costumes, das regras de conduta e demais normas e caretices corporativas.

    Aí é que a gente se engana. Esse pessoal não viveu o desbunde, a contracultura, a porralouquice que encarou (e combateu, mesmo quando sem luta e engajamento) o regime autoritário que se instalou no Brasil exatamente na adolescência e juventude da minha geração. Criados com biscoitos e achocolatados, eles já nasceram plantados em frente a uma tela, viveram trancados em seus quartos, a salvo dos perigos reais e imediatos lá de fora. Geração Toddynho.

    Às vezes ficam deprimidos ao descobrirem que ninguém vai trazer uma bandejinha com o seu lanche. Mas, por outro lado, não se revoltam contra os grilhões das novas mídias. Não se rebelam contra as métricas, os algoritmos, os limites de caracteres, os 20% máximos de informação na imagem. Para eles é tudo absolutamente normal. Faz parte do mundo deles.

    Vivem tudo para ontem. No ritmo frenético das redes sociais, mudam de vibe e de desejos a cada nova fase. E as fases vêm em velocidade assustadora. Não podemos, portanto, esperar que eles se adaptem ou que mudem. Eles são.

    Nós, os dinossauros, é que devemos nos adaptar, mudar, evoluir. Acelerar os nossos relógios mentais e abrir a cabeça para novas realidades. Pois foi o que eu fiz. E, quer saber? Foi uma merda. No início, demorei a encontrar um padrão criativo, diminuí bastante as minhas expectativas e até comecei a duvidar das minhas certezas. Mas foi aí que eu comecei a me aproximar dessa galerinha e, aos poucos, percebi que há esperanças.

    Muitos jovens ainda buscam os cursos de criatividade com vontade de aprender, de conhecer os grandes nomes da criação e as suas histórias, de desvendar os maiores clássicos da publicidade internacional. E querem se inspirar neles para trazer para o ambiente digital o que estão aprendendo com os mestres. Os cursos da Miami Ad School estão lotados de meninos e meninas ávidos por aprender a escrever bons textos, a criar belos layouts, a fazer roteiros surpreendentes. Eles não sabem, mas o que eles querem mesmo é descobrir o prazer, a alegria de trabalhar, o desafio, a magia da velha boa ideia. Eles querem sair dos seus quartos e sentir o vento bater em suas caras, querem perambular livres pelas ruas, querem arriscar ir mais longe. Eles querem criar e produzir ideias que façam diferença na vida das pessoas, mas não apenas com hashtags, emojis e likes.

    Fica aqui uma sugestão: por que não fazemos isso juntos? Cada um com a sua bagagem, numa caminhada em que a gente possa sempre se encontrar no meio do trajeto? Uns vêm com a experiência em conceituar, encontrar e estabelecer o diferencial de marcas e produtos, criar títulos e taglines poderosos. Outros vêm com o novo, a linguagem, a manha de cada formato e as melhores práticas para gerar leads incontestáveis.

    A gente se junta e encontra uma linguagem que não é uma coisa e nem outra. Aí pode ser que os anunciantes comecem a perceber uma diferença nos materiais que vão receber. Vão notar o brilho num stories, a sacada genial num canvas, vão vibrar com a ousadia de um vídeo e vão acabar entendendo que vale a pena pagar um pouquinho mais por uma ideia mais impactante e matadora. E a gente vai se divertir mais e produzir muito melhor.

    Vamos aproveitar o que cada geração tem para oferecer. Vamos misturar Coca-Cola com Toddynho. Acho que pode dar uma mistura bem esquisita, mas vá lá: muito surpreendente.

    Toninho Lima

    Toninho Lima é redator, professor na Miami Ad School e articulista na Janela Publicitária

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