• Episódio de votação em Sidão mostra como é frágil eleição online

    Craque do Jogo - Julia Guimarães e Sidão

    O Grupo Globo admitiu esta semana que precisará mudar o sistema de votação do “Craque do Jogo”, que vinha sendo promovido através de simples participação online dos internautas. A partir de agora, os comentaristas da casa terão direito aos votos decisivos na escolha.

    Para quem perdeu a história, no último domingo, o goleiro vascaíno Sidão foi indicado por 90% dos votos online como o Craque do Jogo entre o time carioca e o Santos. Acontece que Sidão, jogando mal, havia sido considerado um dos principais responsáveis pela derrota por 3 a 0 do Vasco. Mas levou a eleição por “trolagem”, ou seja, uma gozação digital, mobilizada pelas redes sociais.

    Justificando que a promoção do Craque do jogo integra o pacote comercial das transmissões do Brasileirão, os diretores da Globo acabaram forçando a sua repórter Julia Guimarães a fazer a entrega do troféu publicamente, revoltando inclusive outros jornalistas da emissora pela humilhação imposta ao atleta. No dia seguinte, porém, a Globo admitiu o erro. “Reconhecemos que a entrega do troféu não foi adequada na ocasião e agradecemos a educação de Sidão no momento de tensão”, publicou a emissora.

    Aliás, esse não foi o único desastre de uma pesquisa online da Globo no próprio domingo. Na transmissão da Fórmula 1, Galvão Bueno mostrou-se constrangido com a votação indicando o piloto Sebastian Vettel como o segundo mais provável vencedor da prova de Barcelona, a despeito da distante quinta posição que ocupava na prova: “Devem ser os fãs da Ferrari votando”, procurou explicar o locutor.

    Patrícia Pavanelli, do Ibope Inteligência
    Patrícia Pavanelli, do Ibope Inteligência

    A diretora de Contas da área de Opinião Pública, Política e Comunicação do Ibope Inteligência, Patrícia Pavanelli, alerta que é importante notar que levantamentos assim devem ser entendidos como “enquetes” e não como “pesquisas de opinião”:

    “Votações em sites não representam necessariamente a opinião do brasileiro como um todo. Não se pode confundir pesquisas online com enquetes. Nestas, não há critérios científicos definindo uma amostra representativa do universo que queremos ouvir”, explicou a profissional, lembrando que exatamente por não ser possível haver um mecanismo de checagem das respostas, os resultados ficam sujeitos a ações orquestradas de pessoas que tenham acesso às perguntas.

    Não por acaso, reforça Pavanelli, o Ibope sugere que, durante as eleições, candidatos não se iludam com resultados de levantamentos feitos pela internet, sem os critérios científicos de amostragem.

    Paula Lagrotta, da Casa 7
    Paula Lagrotta, da Casa 7

    Paula Lagrotta, diretora da empresa de pesquisas Casa 7 e experiente publicitária, chega a recomendar que a Globo suspenda esse tipo de levantamentos:

    “Enquetes podem ser ótimas para trazer um ‘cheiro’ muito rápido sobre como o mercado se posiciona sobre um determinado tema, mas apenas para permitir que se dê o start em uma investigação mais profunda. O que definitivamente as pessoas precisam entender é que jamais se pode usar uma enquete — que pressupõe uma racionalidade — em um tema que envolva paixões, como é o futebol”, cita a publicitária.

    Lagrotta lembra que a Globo já comete este equívoco antes mesmo da internet, quando começaram as buscas por interatividade e a emissora abriu votações por telefone. “O gol mais bonito da rodada inevitavelmente era do Flamengo ou do Corinthians, que têm as maiores torcidas brasileiras”, brinca a diretora da Casa 7.

    Veja abaixo o momento da transmissão, pela Globo, da entrega do troféu ao jogador Sidão:

    Marcio Ehrlich

    Jornalista, publicitário e ator eventual. Escreve sobre publicidade desde 15 de julho de 1977, com passagens por jornais, revistas, rádios e tvs como Tribuna da Imprensa, O Globo, Última Hora, Jornal do Commercio, Monitor Mercantil, Rádio JB, Rádio Tupi FM, TV S e TV E.

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