Janela Publicitária    
 
  Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
 

Marketing & Publicidade - Edição de 02/AGO/1987
Marcio Ehrlich

 

Esta edição da coluna "Marketing & Publicidade" foi publicada originalmente no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro.
O seu conteúdo foi escaneado e transcrito para ficar à disposição de consultas pela internet.

Justiça intervém em eleição

Murilo Coutinho
Murilo Coutinho diz que justiça garantirá a eleição.

Semana passada, noticiei aqui que o Delegado Regional do Trabalho, Fernando Pessoa, havia determinado a suspensão da eleição para o sindicato, com base na conclusão de um assistente jurídico do órgão, que discordara do prazo de 10 dias concedido pelo Sindicato para o registro das chapas, e pelas acusações de fraudes que os membros do movimento Reclame, de oposição, e integrantes da Chapa I, fizeram contra o presidente do Sindicato, Murilo Coutinho.
Praticamente todos os membros da Chapa 2, de situação, no entanto, defenderam-se entrando, ainda na sexta-feira passada, com mandados de segurança para a realização da eleição, conseguindo, entre eles, o do Juiz Federal José Ricardo de Siqueira Regueira, em exercício na 9ª Vara do Rio de Janeiro, que deferiu a medida liminar, determinando que o Delegado do Trabalho não interferisse no processo eleitoral, com eleições marcadas para os dias 27/07 a 30/07.
Desta forma, o Sindicato efetivamente teve condições de realizar a eleição no prazo marcado, só que com chapa única (a liderada por Maria Helena Fuzer). Foram abertas durante a semana três urnas: uma fixa no próprio Sindicato, outra na Ebid (Páginas Amarelas) e uma terceira, volante, passando pelas agências.
De acordo com Murilo Coutinho, esta eleição não tem a menor hipótese de ser anulada, já que a decisão de um juiz federal se sobrepõe à da DRT. Além disso, ele afirma que a Delegacia Regional do Trabalho se equivocou ao basear a suspensão da eleição no prazo de 10 dias dado para o registro. Este prazo, diz, consta dos Estatutos do Sindicato, legitimamente homologados na DRT com o numero 24370-008.424/86, em 30 de maio de 1986. Havendo nos Estatutos a citação do prazo, completa Murilo, o item da portaria nº 3.150, de 30/04/86, que regulamenta os procedimentos de eleições sindicais em 15 dias, perde a aplicabilidade, o que é plenamente previsto pela própria portaria.
Murilo considera que, democraticamente, se a Chapa 2 cumpriu com todos os requisitos da lei, ela não pode ser punida com a anulação da eleição. Igualmente, ele garante que, se a chapa de Maria Helena for eleita, com maioria dos cerca de 400 votos necessários para a eleição se legitimar, ela tomará posse, provavelmente, dia 19 de setembro. Para isto, ele se baseia na CLT — Consolidação das Leis do Trabalho que, explica o presidente do Sindicato, determina que, para a posse, "não tem efeitos suspensivos os protestos ou recursos oferecidos na conformidade da Lei".
O grande obstáculo enfrentado pela Chapa 1, ao que foi possível levantar, foi a falta de nomes em sua composição para que ela fosse registrada no Sindicato. Hayle Gadelha, da Chapa 1, diz que isto ocorreu por "jogada" de pessoas pertencentes à chapa e ligadas a Murilo Coutinho, que abandonaram propositalmente o grupo perto do prazo final, para impedir o registro. Mas ele afirma que mesmo tendo sobrado 14 nomes, a chapa poderia ter sido aceita, porque a legislação exige o mínimo de 12 nomes da diretoria.
Gadelha lembra que os membros da Chapa 2 ainda tentaram impugnar os nomes restantes, mas todas as impugnações foram rejeitadas. Em folheto distribuído às agências durante a semana — a Chapa 1 negou todas as afirmações de Murilo Coutinho, divulgando que "as eleições estão definitivamente canceladas pela DRT", e informando que "eles podem até dar posse à vontade, que nada vai valer".
O candidato de oposição, inclusive, até o fechamento dessa coluna, estava bastante otimista, acreditando na anulação da eleição, e contando que, dos esforços jurídicos para este fim, ele já estava cuidando. "A concessão de um mandado de segurança", diz, "não significa a palavra final. Apenas o juiz dá um tempo para conhecer melhor o assunto, obter mais informações e só depois julgar".
Em suma, independente do que tiverem dito as urnas esta semana, os publicitários cariocas ainda terão que aguardar um bom tempo para saber qual dos dois grupos conseguiu levantar recursos jurídicos mais convincentes para a sua tese.
O nome do novo presidente do sindicato será uma simples decorrência desta situação.

Spot Light lança book de modelos exclusivos

Luma de Oliveira (1987)
Esta Luma de Oliveira inteira é exclusiva da Spot Light

A agência de modelos Spot Light começou a distribuir nas últimas semanas às agências de propaganda cariocas seu novo catálogo de modelos exclusivos, um super "book" com 60 profissionais femininas — que incluem modelos badaladíssimas como Vick Schneider, Luma de Oliveira e Fernandinha —, e 35 masculinos.
A agência, dos também conhecidos Chris Rodrigues e João Simões (este, ex-Artplan), resolveu investir fortemente em material promocional para, conforme comenta Simões, "dar uma imagem de seriedade para o setor que os profissionais de agências não estavam acostumados".
Para esta imagem de profissionalização, inclusive demonstra Simões, "é que incluímos no 'book' um conjunto de normas para contratação de modelos, preparada por nosso assessor jurídico, e que inclui até uma tabela internacional de cessão de direitos".
O diretor da Spot Light diz que, até hoje, praticamente todas as agências de modelos vinham representando os mesmos profissionais umas das outras, o que acabava gerando desgastes no relacionamento deles com as empresas de modelos e com as agências de propaganda. O sistema de exclusividade, explica, propicia uma tranquilidade maior para todas as partes, porque a empresa pode se responsabilizar pelo trabalho do modelo e garantir a ele também a segurança no relacionamento comercial com a agência contratante.

Secretárias terão curso de marketing

A Escola Superior de Propaganda e Marketing promove, de 10 de agosto a 14 de setembro, um curso de marketing para secretárias de executivos da área, atendendo uma solicitação do mercado de possibilitar maior conhecimento das secretárias sobre a área.
As aulas oferecerão noções básicas de marketing, organização do departamento, lançamento de produtos, propaganda etc. As alunas receberão cinco livros, dois manuais e uma fita-cassete. O curso custará CZ$ 6.200,00 e maiores informações podem ser conseguidas pelo tel.: 263-7000.

ADVB-Rio volta a ser ABM até o próximo mês

José Eduardo Guinle (1987)
José Eduardo Guinle quer o "M" de volta

O capítulo carioca da ADVB — Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil está voltando a se chamar ABM — Associação Brasileira de Marketing.
Passados 7 meses da modificação, a diretoria da entidade está concluindo que ela não deu certo, e está ultimando as providências para desligar-se do grupo da ADVB.
As razões para a separação são muitas, explica José Eduardo Guinle, presidente da associação carioca. E nenhuma delas especificamente contra os diretores da ADVB de São Paulo.
"O maior problema", explica Guinle, "é que no Rio de Janeiro não existe uma cultura do que seja ADVB. E esta sigla está totalmente dissociada do perfil que o mercado espera da associação aqui no Rio. Nossa entidade é voltada para o profissional de marketing, esteja ele atuando em indústrias, comércio, empresas de serviço ou agências de propaganda. E a sigla da entidade remete muito mais ao dirigente de vendas, que é um profissional meio híbrido, que a gente não conseguiu identificar".
O presidente da "ainda" ADVB-Rio confessa que já estava cansado de ter que explicar para jornalistas e executivos porque o nome da associação tinha "marketing" e a sigla não tinha a letra "M". E, mesmo sendo esta mais fácil, ele ainda tinha que explicar porque a sigla terminava com o "B" do Brasil se ela era do Rio. Enfim, antes que a associação tivesse que se chamar ADVMRJ, ou ainda, que os esforços da diretoria tivessem como objetivos principais divulgar o nome da associação em vez de ter o objetivo de prestar serviços ao setor, o mais simples se tornou voltar atrás na ligação com o ADVB e recuperar o nome ABM.
À parte disto, é claro, houve problemas que são comuns a todas as tentativas de união de associações entre o Rio e São Paulo. Se os profissionais cariocas ao menos tentaram valorizar localmente o nome ADVB, regionalizando a sua atividade, por seu lado os paulistas não abriram mão das atividades nacionais de sua ADVB. Pelo acordo inicial, todas as ADVBs passariam a ter apenas cobertura regional, ficando as iniciativas e pronunciamentos nacionais vinculados à sigla ABM, a entidade que reuniria as ADVBs e teria sede em discussão, aguardando principalmente por José Zetune, também presidente da ADVB-SP.
Esta ABM "nacional" jamais conseguiu existir. Nem no papel nem na prática. Ou seja, o Rio perdeu a força e a tradição do nome ABM, sem conquistar a imagem da ADVB que outras cidades como São Paulo e Porto Alegre já tem. A cisão teria que ser inevitável.
José Eduardo Guinle esclareceu que os caminhos da retomada do nome ABM ainda estão em discussão, aguardando principalmente a volta ao Brasil de Ruy Schneider, que representava o Rio como vice-presidente virtual daquela ABM sediada em Brasília e seria, ainda por força do acordo inicial, o próximo presidente da associação.
Entre as opções está a de manter a sede em Brasília e a entidade carioca funcionar como regional. Outra possibilidade é trazer de volta ao Rio a sede nacional da ABM e procurar incentivar, em outros Estados, o surgimento de novas regionais, que dariam respaldo à abrangência nacional da entidade.

Cidão na SGB vai resgatar criação

Alcides Fidalgo (Cidão)O redator Alcides Fidalgo está de volta à SGB como diretor de criação, 10 anos após ter chegado a agência, pela primeira vez, vindo de São Paulo, também para lhe dirigir a criação. Lá, ele passou dois anos tendo a oportunidade de colocá-la como uma das mais criativas empresas de publicidade do Brasil, conquistando diversos prêmios nacionais e internacionais para clientes como Ponto Frio, Consultan e mesmo para o Governo do Rio de Janeiro.
De 1979 para cá, Cidão — como é conhecido no mercado — passou por grandes agências como MPM, a Almap e a Salles, tendo sido, em 1985, presidente do Clube de Criação do Rio de Janeiro.
As novas propostas de Alcides Fidalgo para a SGB são ambiciosas. Ele admite que as épocas sejam bem diferentes, lembrando que estamos "no meio de uma crise danada".
"A criação está sendo nivelada por baixo, em termos de exigência e também de salários", afirma, lamentando que a crise tenha levado as agências a cortar pessoas e a exigir a qualidade dos trabalhos nivelando por baixo. "Por isso", diz, ''vejo o novo momento de minha vinda para a SGB como o resgate da criação".
Alcides promete que fará força para, "no limite de seu talento", fazer propaganda bem fundamentada e bem criativa.
"Acho ótimo que a SGB tenha me mostrado que quer ser uma agência preocupada em fazer propaganda, e não overnight", ressalta, citando que em sua maioria as agências cariocas têm estado mais preocupadas com o open que com o seu próprio produto.

MKT MIX

Publicidade carioca desperdiça chance de disputar eleição

É lamentável, mas a eleição para o Sindicato dos Publicitários do Rio de Janeiro transformou-se mais em uma disputa judicial e cheia dos meandros tortuosos comuns à justiça brasileira, do que em um pleito aberto e claro no qual pudessem ter participado o maior número possível de publicitários cariocas para conscientemente escolherem aqueles que os representarão em oportunidades importantíssimas enquanto classe profissional.
Ao contrário de estarem visitando as agências e empresas de propaganda para divulgarem suas plataformas e vencerem legitimamente pelo apoio de suas bases, os diretores das duas chapas que pretendiam disputar a eleição passaram as últimas semanas entrando e saindo de tribunais e delegacias de Trabalho. Em vez de escreverem suas ideias de como defender os publicitários cariocas passaram o tempo escrevendo petições e denúncias.
É realmente uma pena que a primeira oportunidade de se ter uma eleição disputada entre duas chapas no meio publicitário carioca, nos últimos 15 anos, tivesse tomado este caminho, exigindo praticamente que, para talvez compreenderem o que está acontecendo, esta classe tivesse que ser de advogados, não de publicitários.

Smuggler aposta na força do desconto

Após a bem bolada campanha "Decisão Smuggler", que, desafiando a crise, anunciava pelos jornais o desconto de 32% em todas as mercadorias da rede, a Smuggler está com outra campanha nas ruas: a liquidação de inverno, oferecendo 50% de descontos.
Para a liquidação, a etiqueta contratou duas top­models paulistas, que aparecem bem produzidas nos anúncios dos principais jornais cariocas. Além disto, foram criadas camisetas com design exclusivo, que durante todo o mês de agosto vestirão as 200 vendedoras da cadeia Smuggler. É a primeira vez que uma campanha de liquidação da empresa vem cercada de tantos cuidados, e Pina Alario, Diretora Executiva da Smuggler, acredita que o sucesso de vendas obtido com a iniciativa "Decisão" continue no mês de agosto.

Constituinte vende feijão para o Copa

A Giovanni & Associados começou a veicular um anúncio para o Copacabana Palace que aproveita muito bem toda a atualidade do tema "Constituinte" para divulgar a qualidade da feijoada do restaurante Pérgula, daquele hotel.
"O Feijão e a Constituição", ou seja, "Uma revisão temática sobre as características psicossociais do mais nacional de nessos pratos", lista seis princípios básicos para a elaboração de urna feijoada bem constituída, brincando com a Constituinte.
Usando uma série de ganchos, o anúncio faz uma sátira à situação política brasileira, associando palavras de ordem, slogans etc., ao mais puro vocabulário de nossa culinária.
Por exemplo, entre os princípios de uma feijoada perfeita estão "A Constituição da Feijoada", "Liberdade às margens plácidas da piscina do Copa", "Abaixo o separatismo", "O arroz unido jamais será comido" e "O feijão é nosso".
Assim, como na "hora do preto no branco, o arroz tem que ser solto”, a feijoada do Copa "respeita as raízes da culinária brasileira e é enriquecida por um serviço cheio de mordomias", merecendo, portanto, o "seu voto de confiança". A criação do excelente anúncio é de Adilson Xavier e Jeovah dos Santos, com produção gráfica de Paulo Moraes e Andrea Guimarães, atendimento de Cristina Abdala e ilustração de Walmir Rodrigues.

Giovanni para Copacabana Palace: O Feijão e a Constituição

Contos & Contas

Genilson Gonzaga

Um Brizola irreconhecível e decepcionante na televisão

O ex-governador Leonel Brizola voltou esta semana à televisão com um programa que seria doutrinário em honra do fortalecimento do PDT e dos interesses de uma sofrida população que começa a perder as esperanças de se ver resgatada da miséria em que a afundaram em 21 anos de ditadura.
Desta vez, Brizola pisou na bola.
O Sr. Brizola é um dos meus autores prediletos. Seu discurso sempre me fascina porque reflete as aspirações dos humildes e dos oprimidos. Esta semana, entretanto, ele, que sempre foi um mestre de comunicação e de identificação com as massas, através do diálogo rico de ideias, desperdiçou uma hora de nobreza da televisão com um lenga-lenga que chegou a ser irritante.
Irritante porque o grosso dos telespectadores perdeu seu programa de estimação para não ouvir nenhuma novidade, nenhuma pregação emocionante, nenhuma manifestação notável que esperava captar de quem pretende chegar, pela força das urnas, à Presidência da República. E até merece chegar lá.
Na verdade, Brizola não chegou a esquentar. Sempre começa manso, com sacadas espirituosas, até chegar à exacerbação com tiradas mortais para seus adversários. Falou frio do princípio ao fim. Decepcionou redondo.
Foi certamente prejudicado pelos seus coadjuvantes que pintaram no vídeo, tomaram mais da metade do tempo e nenhuma mensagem nova tinham a transmitir, à exceção de César Maia e Marcelo Alencar. Os outros atrapalharam.
Talvez o Sr. Brizola não esteja acostumado a dividir as luzes da ribalta com outros astros. Os desta semana se revelaram canastrões. Isso, de fato, tira o ímpeto e a empolgação de qualquer um.
Desancar quatro meses apenas de Governo Moreira Franco foi um ato de inabilidade estratégica monumental, pois o telespectador não levou os ataques a sério. A defesa dos Cieps, sua grande obra, foi chocha, insossa. A tentativa de intriga do governador junto aos empresários em face da criação de meia dúzia de estatais foi pífia. Ninguém entendeu o porquê da presença do ex-governador na televisão. Ele não soube esperar por melhor oportunidade para soltar sarrafo verbal nos seus adversários — de Moreira a Sarney, dos Medina a Saturnino.
Nenhuma palavra — já que o programa era de âmbito regional — em defesa deste Rio aflito e massacrado. Nenhum gemido contra a divisão territorial do município, que será retalhado impiedosamente. Nenhum protesto contra a procrastinação da reforma tributária que está matando os municípios. Nenhuma referência ao royalty do período ao Polo Petroquímico e à Linha Vermelha que nos tungaram.
O programa do PDT, nesta quarta-feira, foi pobre de espírito e de qualidade, de clima e de montagem institucional. Brizola e o partido precisam reaprender a usar a televisão como veículo de transmissão dos seus ideais, dos seus sonhos, reivindicações, vocações e promessas.
Uma lástima. Ninguém invade impunemente a nossa casa sem pedir permissão e sem nos empolgar com seu verbo cívico, dizendo­nos o que não nos interessa ouvir.
O tiro saiu pela culatra. O feitiço virou contra o feiticeiro. Da próxima vez, prepare-se melhor e venha sem coadjuvantes. Mediocridade dói.