Publicada desde 15/07/1977.
Na Web desde 12/07/1996.
 
A Janela Internacional traz o que acontece na Europa, pelo redator Fabio Seidl.
Edição de Dezembro de 2006
 

Good things come for those who believe in creativity

Estive na Irlanda e fui conhecer a fábrica da Guinness, no norte de Dublin. Os caras tem por lá a "Storehouse", um outro nome, mais chique, para se batizar um "museu". Eu particularmente prefiro "Museu". Depois de umas 3 ou 4 cervejonas daquelas é impossível falar "Eu fui na Guinness Storehouse" sem cuspir na cara do interlocutor.
Então é um museu mega: a maior atração da capital irlandesa, num prédio de 7 andares que por dentro tem o formato de um pint (o copo tradicional), e o mais bacana para nós publicitários: um andar inteiro dedicado à propaganda.
É legal ver como a marca e a sua publicidade estão intimamente ligadas. E ver que, por melhor que seja o produto, a Guinness não seria a Guinness que é hoje sem a sua comunicação.
A mostra de publicidade começa mostrando algumas curiosidades: descobri, por exemplo, que o livro Guinness dos Recordes foi criado por um ex-gerente da cervejaria, Hugh Beaver. A história é que em 1951, numa caçada, Beaver errou um tiro fácil num pássaro, foi sacaneado pelos amigos e saiu se justificando, dizendo que a raça do pássaro era a mais rápida da Europa.
Para provar que não era zarolho, foi pesquisar e acabou tendo a idéia de escrever um livro falando sobre as coisas mais rápidas, mais altas, mais pesadas e todas essas informações fundamentais para a constituição da cultura inútil da nossa sociedade. A Guinness não patrocina mais o livro, mas o nome ficou.
Andando mais um pouquinho, tomamos conhecimento toda a história criativa da marca. Desde os bichinhos-propaganda que representavam a cerveja no início do século passado (primeiro um Tucano, depois vários outros) até as campanhas premiadas nos últimos anos.
E apesar do recente sucesso do comercial noitulovE, a grande estrela por lá ainda é o filme Surfer, de 1998, que marcou a grande virada da Guinness.
Já escutei várias vezes que este filme teria sido recebido com pé atrás pelo cliente que não gostava dos cavalos nas ondas. A agência, BBDO UK, teria dito que não iria amputar a idéia e sim pensar em outra coisa. Acabou convencendo o cliente a fazer um dos filmes mais premiados da história. Hoje, a Guinness continua investindo em criatividade e é um dos anunciantes mais premiados e bem sucedidos do mercado. E levou novamente o GP em Cannes este ano.
Os cavalos viraram caneca, camisa, pôster, caneta e tudo mais o que você possa imaginar na loja de souvenirs da Storehouse. Loja que, aliás, é uma atração à parte, com todo tipo de produtos relacionados à marca, incluindo essas curiosas pantufas.
Há quem diga que só a loja vale o ingresso no museu. Pode ser, mas o preço, €14, é salgado. Pelo menos para acompanhar esse salgado eles dão uma Guinness no bar panorâmico da fábrica. Vale a pena.
Reveja os comerciais clássicos da Guinness em http://www.guinness.com

(Agradecimento especial aos criativos brasileiros Aline Arantes, redatora da DraftFCB Lisboa, e Serginho Lobo, D.A. da Leo Burnett Lisboa. Valeu pelas fotos e pela companhia.)

PELOS ARES

Ainda a Irlanda. Abro a revista de bordo da AerLingus, companhia aérea irlandesa, e me deparo com duas pérolas. Primeiro esse anúncio de tradutor digital que diz na própria etiqueta do equipamento que traduz tudo perfeitamente para o "Portugese" que numa língua qualquer deve querer dizer "Portngues". Me pareceu bastante confiável.
Algumas páginas depois me deparo com esse "PUTONA HAPPY FACE". Demorei pouco para entender que era o espaçamento apertado do texto que queria dizer "Put on a Happy Face."
Mas o diretor de arte não tem culpa. Ele provavelmente não fala "Portngues".

CHURRASQUINHO GRECO-IRLANDÊS

O camarada Serginho Lobo, diretor de arte brasileiro a serviço da Leo Burnett Portugal e feliz proprietário das pantufas citadas na matéria lá de cima, ficou fã dessa cadeia de "churrasquinho grego" em Dublin cuja principal "mágica" estar sempre vazia. O "kebab", nome original do sanduíche de sobra de carne, é o ganha-pão (não seria o vende-pão?) de boa parte da comunidade turca na Europa. Mas vai inventar um nominho complicado assim na China. "Abrakebabra?" Tenta repetir isso três vezes, bem rápido. Ok, agora com a boca cheia de churrasquinho e pão.

 

MARCA DO MÊS

De Dublin para Lisboa. Do churrasquinho para o Churros. Eis que encontro perto da minha casa este estabelecimento de nome À OTÁRIO. Não resisti e fui lá na roulote (aqui não se chama trailer, trailer é no cinema, pá). Estava meio sem graça de puxar assunto com o dono mas fui ajudado por uma van que passou cheia de gaiatos gritando: "Ô, Otáááário!"
- O pessoal brinca muito com o nome do trailer?
- Brinca, brinca...
- E porquê o nome?
- Foi idéia do meu pai. Fizeram uma brincadeira com ele e ele achou que era bom para fazer publicidade. Se não fosse o nome ninguém nos conhecia. Já estamos aí há anos e todo mundo conhece o Otário.
Chegam dois moleques, pedindo: "Ô, Otário! Dois churros de chocolate."
- Estás a ver?
- E não enche a paciência?
- É pá, enquanto estivermos a vender bem...não.
É, quanto mais eu aprendo, menos eu entendo.

ENTREVISTA: DANIEL XAVIER, Cartoon Network, EUA.

Daniel Xavier é carioca, redator, gente fina e trabalhou em agências como a Comunicação Carioca, DPZ e Agência3. Partiu este ano para Atlanta, nos EUA, depois de receber uma proposta para ser redator publicitário da Cartoon Network. Bati um papo com o cara para saber como é essa história de ganhar a vida na América assistindo desenhos animados e criando para eles.
FS: O que faz exatamente um redator no Cartoon Network?
DX: O trabalho é essencialmente o mesmo de redator de agência: Orkut, Messenger, PornoTube... A diferença é que aqui temos apenas um cliente, o canal, onde cada desenho é um produto. Por exemplo, os briefings são: temos que dizer que o Scooby-Doo, passa às quintas-feiras, às 7h30. Aí você pode baixar o santo dos Hanna-Barbera, escrever 30 segundos para o Scooby-Doo e depois animar. Sem ser processado por isso.
FS: E como é a estrutura do trabalho aí?
DX: É como uma house. Mas aqui somos responsáveis desde a criação até a entrega da fita. É uma mistura de redator, RTV, diretor e estagiário do tráfego. Somos 6 redatores-produtores, mais o diretor de criação, e trabalhamos sem dupla. 90% do trabalho é TV. Quando tem print, nos juntamos com uma outra equipe só de DAs. Isso aqui é uma grande Arca de Noé, formada basicamente por brasileiros, argentinos, mexicanos e americanos. A língua falada aqui é quase esperanto. Todos trabalham para todos os países da América Latina.
FS: É muito diferente a rotina comparando com uma agência?
DX: Trabalhando no cliente, você corta etapas do processo. Não temos atendimento nem moto-boy. Somos também o veículo na maioria dos casos. O cliente final é quase sempre o diretor de criação. Isso facilita o planejamento. Os prazos são razoáveis mas, como vivemos boa parte do dia produzindo, o tempo para a criação fica apertado.
FS: Quais foram os momentos mais bacanas e os mais difíceis dessa experiência?
DX: Acho que o momento mais bacana é o que eu ainda estou vivendo, a chegada, as pessoas novas, a cultura diferente, morar num outro país. O momento mais difícil até agora acho que foi responder esta entrevista às pressas porque o colunista da Janela Internacional, coitado, está saindo de férias.
FS: Valeu, Daniel! Superobrigado e sucesso pra você!

PLANTANDO BANANEIRA

A dupla de brasileiros Otavio Schiavon e Carlos "Ia" Murad (que já foi entrevistado aqui na J-Inter) anda aprontando lá na Colômbia. Criaram agora pra Leo Burnett Bogotá um anúncio impresso em folhas de bananeiras para anunciar o Toyota Prado.
O título da peça é "Entre em contato com a nossa natureza" e foram produzidos mais de 25 mil peças, quase que artesanalmente.
"Deu trabalho, mas o resultado valeu a pena e a repercussão tem sido muito boa", conta Ia. Confira as fotos do making of.

A ÚLTIMA

A coluna deste mês saiu adiantada (e a do mês que vem também deve atrasar) porque como o Daniel disse, estou saindo de férias. Vou passar uns dias aí no Rio e espero encontrar os amigos para aquele choppinho. Para quem eu não encontrar até lá, um bom Natal, Hannukkah ou Eid ul-Adha. Um abração e feliz ano novo! Até.

Fábio Seidl é redator da McCann-Erickson Portugal- Dezembro/2006)