• DM9: histórias de uma agência que agora fica na História

    Nizan Guanaes na DM9DDB

    A DM9 não foi fundada por Nizan Guanaes e sim por Duda Mendonça, em 1975. A Janela aproveita para lembrar de histórias que pouca gente hoje sabe, mas merecem ser lembradas, nessa hora em que desaparece a marca, sendo a DM9DDB fundida pela Omnicom com a Sunset sob o nome SunsetDDB.

    Nascimento

    Foi em 1976 que Duda Mendonça, trabalhando no ramo imobiliário de Salvador, decidiu abrir sua própria agência, colocando como nome suas iniciais e, segundo algumas versões, o número de funcionários que seguiam com ele no projeto. Outras versões dão que Duda  escolheu o 9 apenas por sonoridade. Coincidência ou não, o redator Toninho Lima, que trabalhou lá, registra que a casa onde ficava a agência era no número 9.

    Na época, dizia-se que Duda não estava satisfeito com o trabalho da sua agência, a Propeg, e resolveu produzir ele próprio suas ideias. Rodrigo Sá Menezes, presidente da Propeg, confirma que Duda estava sempre querendo mexer nos trabalhos apresentados.

    O DNA criativo da marca vem, portanto, do berço. Duda, aproveitando que as emissoras baianas não tinham os padrões de comerciais de 30 segundos ou um minuto, fazia seus filmes com a secundagem que achava necessária para contar as ideias, tivessem 43 ou 82 segundos, por exemplo.

    Já em 1976, foi Agência do Ano do Colunistas Bahia. E em 1978, o Colunistas Nacional escolheu a DM-9 como a Agência do Ano. Na festa, realizada no Le Buffet do Rio de Janeiro, em 1979, Duda fez um estardalhaço de comemoração, trazendo uma comitiva da agência, inclusive jornalistas para entrevistá-lo no meio do salão, enquanto outras agências ainda subiam ao palco.

    Duda Mendonça, Nizan Guanaes e Domingos Logullo comemoram a nova DM-9, em 1989.
    Duda Mendonça, Nizan Guanaes e Domingos Logullo comemoram a nova DM-9, em 1989.

    Só em 1989, o igualmente baiano Nizan Guanaes, ex-estagiário da agência, juntou-se a Domingos Logullo e a João Augusto “Guga” Valente, em sociedade com o banco Icatu, para trazer o nome de volta, associado a Duda. Numa apresentação da DM9 na internet, se referem à DM9 como “marca usada antes por uma agência de atuação regional na Bahia”.

    A Janela esteve presente na coletiva de apresentação e registrou “Na nova sociedade, Nizan Guanaes e Domingos Logullo ficam com 19% cada um, e João Augusto Valente 3%. Os 25% restantes ficam com a Nove Publicidade, empresa na qual se transformou a antiga DM-9, e da qual Duda Mendonça participa com 70% (os outros 30% são de seus antigos sócios na agência). O capital social inicial é de 1 milhão de cruzados novos.”

    Portanto, o próprio Nizan, em comunicado esta semana, citando apenas “Quando eu e Guga fundamos a DM9”, é uma injustiça ao passado da agência.

    Ainda no registro histórico, em abril de 2000, Duda Mendonça pegou o seu “D” e juntou com o “S” do também baiano Sidney Rezende para partir para uma nova agência, a DS2000, juntando a DM-9 baiana com a Divisão & Engenho de Sidney.

    Sede de Prêmios

    A DM9DDB, numa época, passou a ter tanta vontade de ganhar prêmios em Cannes, que começou a juntar profissionais, nos meses anteriores ao concurso, especificamente para criar projetos para inscrição no festival. O grupo ganhava sala própria, na qual recebiam ideias de todo mundo da agência e iam selecionando e aprimorando até terem um volume significativo para arrebentar no festival. Provavelmente para não perder a fama conquistada em 1993 quando levou o primeiro GP brasileiro, para o Guaraná Antarctica Diet.

    Vale registrar que, em 1999, ela foi a mais premiada na França, a primeira vez que uma brasileira chegava àquele posto, feito que repetiu outras três vezes.

    Justiça seja feita, a DM9 conseguiu ser uma das agências a mais incentivar a ousadia e a qualidade na criação brasileira. No Colunistas Brasil, foi sete vezes agência do ano, desde a sua primeira fundação.

    O primeiro GP brasileiro em Cannes, da DM9 para o Guaraná Antarctica Diet.
    O primeiro GP brasileiro em Cannes, da DM9 para o Guaraná Antarctica Diet.
    DM-9 no Rio

    A agência teve várias idas e vindas no mercado. Nos anos 80, chegou a ter escritório, que inclusive atendeu a conta do Governo do Estado e da Prefeitura do Rio.

    Em abril de 1984, depois de ter fechado, a DM-9 passou por uma saia justa. Durante uma reunião dos diretores das agências cariocas participantes do Consórcio que atendia ao Governo e ao Município, o representante da DM-9 antecipou-se às insinuações dos demais de que sua empresa não tinha mais estrutura no Rio e, por isso, não mais poderia participar do Consórcio, e apresentou uma carta oficial da agência solicitando o seu desligamento.

    Em novembro de 2003, a Janela registrava que a DM9 (já sem o tracinho) estava começando a montar escritório na esquina da Praia de Copacabana com a Rua Princesa Isabel. Motivo: a conquista da conta do Ponto Frio, que estava na Fischer Rio. Na época, Alcir Gomes Leite, diretor da agência, aproveitando os festejos por ela começar a atender até a conta da escola de samba Mangueira, garantiu a este colunista: “A DM9 agora veio para ficar no Rio”. Mas não durou muito.

    Sérgio Valente e Polika Teixeira comemoraram a entrada da conta do O Globo na DM9 Rio.
    Álvaro Rodrigues, Sérgio Valente e Polika Teixeira comemoraram a entrada da conta do O Globo na DM9 Rio.

    Em agosto de 2007, a agência dispensou toda a sua criação carioca, deixando aqui apenas atendimento e planejamento, comandados pela diretora geral, Polika Teixeira. Em 2008, a agência levou Polika para a DM9 de São Paulo. O movimento deveu-se à conta de Ponto Frio também ter transferido sua base para a capital paulista.
    Em 2010, porém, o Ponto Frio deixou a DM9. E em 2011, Polika voltou ao Rio para comandar a nova DM9DDB, junto com Álvaro Rodrigues. A DM9 Rio, desta vez, resistiu quatro anos. Em 2015, o Grupo ABC unificou as operações da DM9 e da África no mercado carioca. Lá se foi a marca da agência no Rio.

    Briga com Bebeto
    Cartum de 1994 na Janela, sobre o episódio de Bebeto processando a DM-9.
    Cartum de 1994 na Janela, sobre o episódio de Bebeto processando a DM-9.

    Na Copa de 1994, em que o Brasil levou o tetracampeonato, o jogador Bebeto comemorou um gol contra a Holanda fazendo o gesto de que estaria embalando um bebê. Na época, explicou-se que teria sido em homenagem a um filho recém-nascido.

    A DM-9, agência da Parmalat, em seu primeiro trabalho para o cliente, criou um comercial comemorando o tetra mostrando o mesmo gesto de embalar um bebê. Trabalho criado e produzido em menos de uma semana, para aproveitar a oportunidade.

    Dirigido por Fernando Meirelles, com direção de fotografia de Leonardo Crescenti e trilha sonora da produtora MCR, o filme não mostrava os jogadores, mas uma série de torcedores repetindo o gesto do atleta carioca.

    Resultado, Bebeto entrou com uma ação contra a agência, pedindo US$ 200 mil.

    A Janela chegou a fazer uma charge na época, por conta de tantos patrocínios e presentes os jogadores de 94 receberam.

    Ah, sim, no que deu o processo de Bebeto, não há qualquer registro no Google. O comercial, aliás, está nesta série sobre comemorações da Copa de 1994 no Youtube.

    Marcio Ehrlich

    Jornalista, publicitário e ator eventual. Escreve sobre publicidade desde 15 de julho de 1977, com passagens por jornais, revistas, rádios e tvs como Tribuna da Imprensa, O Globo, Última Hora, Jornal do Commercio, Monitor Mercantil, Rádio JB, Rádio Tupi FM, TV S e TV E.

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